Uma Batalha Após a Outra (2025)
Título Original: One Battle After Another
Direção: Paul Thomas Anderson
Roteiro: Paul Thomas Anderson baseado no livro de Thomas Pynchon
Elenco: Leonardo DiCaprio, Sean Penn, Benicio Del Toro, Regina Hall , Teyana Taylor, Chase Infiniti
Duração: 161 minutos
Distribuição: Warner Bros.
Paul Thomas Anderson é um diretor dinâmico, capaz de criar filmes aparentemente distintos entre si, tanto em gênero quanto em estilo. No entanto, o tema parece ser recorrente: as complexidades e disputas nas relações de poder da sociedade. Em Uma Batalha Após a Outra, que segue Licorice Pizza de 2022, o diretor conta a história de um ex-revolucionário que precisa resgatar sua filha de forças militares. Poderia ser apenas mais um filme de ação do tipo pai-salva-filha, mas é muito mais que isso – há humor, ironia e comentários sociais pertinente aos Estados Unidos atual.

DiCaprio é Bob Ferguson, um “revolucionário trapalhão” que, depois de ficar longe da esposa Perfídia Beverly Hills (Teyana Taylor), precisa se refugiar para cuidar da sua filha recém-nascida, Willa (Chase Infiniti). No prólogo, é possível entender a relação contrastante entre Bob e Perfídia, que parecem inverter os papeis convencionais de pai e mãe. Logo na cena de abertura, testemunhamos como esses personagens, principalmente Perfídia, caminham entre os limites morais e físicos – na ponte que divide o México e Estados Unidos –, sempre dispostos a arriscar sua vida por seus ideais.
Ao contrário da figura paterna heróica e invencível dos filmes clássicos de ação, DiCaprio interpreta um pai medroso e acomodado que não combina em nada com a imagem de um revolucionário violento. Esse elemento traz mais realidade e um teor cômico à tela, o que funciona na maioria das cenas graças à atuação de DiCaprio. Outro traço de genuinidade está nas cenas de ação, que são sentidas com intensidade – cada tiro, cada solavanco e batida de carro parece ter o peso que realmente tem na vida real, mostrando a dimensão do risco que é tomado pelos personagens.
Enquanto DiCaprio interpreta um personagem vulnerável, Sean Penn é o Coronel Steven J. Lockjaw, um militar implacável, capaz de tudo para “manter a ordem” e ser aceito como parte da elite secreta norte-americana. Um homem branco de meia idade com valores severos e com trejeitos inflexíveis, Sean Penn é magnético em cada aparição, chamando atenção pelo olhar, voz impostada ou pela caminhada coxa e pesada.
A saga de quase três horas de duração, que pode até ser longa mas não entediante, tem seu ponto alto em uma cena de perseguição estonteante nas montanhas do deserto californiano. Nesse momento, Willa tem a chance de sair do papel de filha indefesa para rebelde estratégica, encarnando sua mãe. Na sequência em questão, os altos e baixos da estrada representam a jornada incansável pelo poder e dão ainda mais sentido ao título do filme. A montagem, a trilha e a coreografia dos carros deixam o público encantado, provocando uma sensação física de tontura.
Para além da ação com efeitos visuais impressionantes e da narrativa frenética, este é um filme que questiona a ideia de liberdade em um cenário atual de “extremismos”. Por debaixo de diversas camadas de subtexto, Paul Thomas Anderson escancara um conflito racial geracional e interminável entre dois pólos de poder que ainda é evidente na sociedade estadunidense. Aqui, qualquer resposta à altura do lado mais ‘fraco’ é vista como radicalismo diante da força massiva do poder institucionalizado.
A provocação de Nina Simone ecoa no filme na frase ‘liberdade é não ter medo’, dita pelo personagem de Benicio Del Toro, Sensei Sergio St. Carlos. Mas é mesmo possível atingir essa liberdade dentro de um sistema que a esmaga constantemente? Anderson não oferece respostas fáceis, apenas sugere que as batalhas de hoje, apesar de atualizadas para o contexto contemporâneo, são as mesmas de séculos atrás e, possivelmente, à frente. E onde há opressão, haverá resistência, sempre.