Crítica | 50º TIFF | Franz

Franz (República Tcheca, Polônia, Alemanha, França e Turquia, 2025)

Título Original: Franz
Direção: Agnieszka Holland
Roteiro: Marek Epstein e Agnieszka Holland
Elenco principal: Idan Weiss , Peter Kurth, Jenovéfa Boková, Carol Schuler, Katarina Stark e Aaron Friesz
Duração: 2h07min (127 minutos)

Em uma época lotada de filmes biográficos, como lançar algo que seja original deve ser uma preocupação frequente na mente de um cineasta que ainda tem como assunto a vida de um homem que todo mundo conhece pelo menos de nome, Franz Kafka. E se as pessoas chamam de kafkiana uma situação ilógica, absurda e angustiante, esse é um bom resumo do que foi a sua obra literária, e o motivo dela ser tão interpretada até os dias de hoje. Felizmente, coube a Agnieszka Holland o trabalho de fazer esse filme com tanto potencial de se tornar uma tragédia ou por excesso ou por falta de inovação.

Já nos primeiros minutos entendemos o básico sobre sua vida, como o crescimento em uma Europa que se tornava cada vez mais próxima do nazismo, até sua morte bastante prematura aos 40 anos. Mas o que se desenvolve em seguida é uma ficção especulativa sobre os pormenores de sua figura e características. Também nas primeiras cenas está um momento que utiliza a edição de som para mostrar como os ruídos da casa de seus pais eram interpretados pelo seu cérebro, e como pessoa neurodivergente, foi ali que compreendi que essa seria a interpretação dada pelo filme. Por mais que muitas das críticas estrangeiras critique a biografia por uma falta de linha narrativa confusa ou pela falta de uma coluna clara que sirva de guia para a interpretação da obra, é justamente aí que está a sua genialidade: assim como a cabeça do autor, falta esse senso claro de direção.

Que fique claro que este não é um filme difícil de entender. Pelo contrário, apesar de uma confusão entre momentos na história, separação entre a ficção escrita pelo autor encenada e sua vida real, e até momentos que se passam na atualidade, ainda há um sentido mais ou menos claro de continuidade do início até o fim de sua vida. É uma diferença muito maior no ritmo da edição, com algumas cenas mais alongadas e outras com cortes rápidos, que fazem com que a imersão no filme seja mais completa e a biografia seja contada de uma forma mais moderna. Mesmo assim, há alguns excessos, como a quantidade de personagens que quebram a quarta parede – recurso muito utilizado em séries na atualidade, mas que nas gigantescas telas do cinema causam estranheza na narrativa de ficção.

No que tange à história contada, no entanto, percebe-se uma maior preocupação com detalhes e em criar essa imagem mítica do gênio. Por mais que haja uma ótima atuação de Idan Weiss nesse papel deste homem que busca uma libertação de suas próprias neuroses e de sua vida tão ditada pelo ritmo do trabalho, há a questão básica de o filme ser uma biografia. Com isso, ele tem que se atentar a pelo menos alguns fatos básicos da vida do escritor que, apesar de toda sua criatividade na escrita, por muitos momentos era bastante comum.

Assim, o resultado é um filme com uma forma bastante diferenciada, mas com o conteúdo bastante neutro em relação ao seu biografado. O que definitivamente já é um passo além da maioria das biografias convencionais.

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