Sexa (Brasil, 2024)
Título Original: Sexa
Direção: Gloria Pires
Roteiro: Guilherme Gonzalez com colaboração de Bianca Lenti e Gloria Pires
Elenco principal: Gloria Pires, Thiago Martins, Isabel Filardis, Danilo Mesquita, Eri Johnson, Rosamaria Murtinho, Dan Ferreira e Déa Lúcia
Duração: 90 min (1h 30min)
Glória Pires estreia na direção com uma comédia romântica sobre os estigmas que rondam o amadurecimento feminino.
Quando cheguei ao cinema para assistir a Sexa, me deparei com Glória Pires dando entrevistas à imprensa em um canto apertado do Reserva Cultural, enquanto era cercada por fãs curiosos para vê-la de perto. Encontrar um artista pessoalmente pela primeira vez é sempre uma sensação curiosa: você tem a impressão de conhecer a pessoa sem nunca ter trocado uma palavra com ela.

Ao ver Glória — rosto carimbado em grandes novelas da TV, como Vale Tudo e Anjo Mau, e em comédias tamanho família como a franquia Se Eu Fosse Você — a sensação não foi diferente. O que mudou, no entanto, foi a percepção que eu tinha sobre ela como pessoa ao sair da sessão de Sexa, filme que marca sua estreia como diretora e revela anseios pessoais dessa figura tão familiar, mas sempre vista à distância.
Na trama, também protagonizada por Glória, ela interpreta Bárbara, uma revisora de textos que acaba de completar 60 anos e se sente complexada pela idade. A carioca mora perto da praia, mas se constrange em exibir o corpo ao mar e evita roupas que pareçam “sexys demais” para alguém de sua idade. Desafiada pela melhor amiga e vizinha Cristina (Isabel Fillardi), Bárbara se permite voltar ao jogo do amor e aproveitar o privilégio de envelhecer, aos poucos se libertando dos estigmas que a cercam.
O título do filme é uma abreviação descolada de “sexagenária” e traduz com precisão o espírito da comédia romântica de Pires. O marco de chegar às seis décadas de vida é, para muitas mulheres, sinônimo de começo do fim. A diretora estreante, porém, propõe enxergar esse processo como uma oportunidade de recomeço e de se arriscar em novas experiências.
Para isso, Glória demonstra entender exatamente o que suas personagens sentem — provavelmente porque ela própria passa por isso. Como realizadora, revela não apenas uma nova faceta como artista, mas também como pessoa. Chegar aos sessenta anos traz questões naturais, como problemas de visão e a diminuição do colágeno, que Bárbara enfrenta. Mas há também a autonomia conquistada, a liberdade, as amizades de longa data e a satisfação de ser dona do próprio destino.
A leveza com que Glória conduz a narrativa é refrescante, equilibrando bom humor e reflexões sobre maturidade. Ela está tão à vontade que até faz referência ao célebre meme “não posso opinar”, da vez em que comentou o Oscar ao vivo sem ter assistido aos filmes indicados. Esse, aliás, é o melhor momento de Sexa.
Quem também brilha é Cristina. A vizinha e melhor amiga sempre tem um comentário sagaz sobre o comportamento grosseiro e machista do filho de Bárbara e não perde a oportunidade de dar o fecho na amiga quando necessário. Isabel Fillardi contrasta com Glória na medida certa: moderna, libertária e carismática, ela impulsiona quem está ao redor com sua energia.
Não dá para negar, contudo, que Sexa é “uma comédia Globo Filmes despretensiosa”, como disse um amigo, referindo-se ao estilo genérico do estúdio nacional, que costuma lançar produções muito semelhantes em narrativa e formato. O terceiro ato do longa é uma bagunça: Bárbara termina o relacionamento, corta o cabelo de repente, o conflito com o filho fica sem desfecho e, então, sobem os créditos.
É frustrante, pois a montagem apressada e o roteiro atropelado dão a impressão de que o filme precisou ser finalizado às pressas. Apesar disso, o encerramento não anula a jornada construída até ali, e Sexa ainda entrega uma bela mensagem sobre abraçar a finitude de si e repensar os preconceitos que cercam o amadurecimento feminino.
Filme assistido na 49ª Mostra Internacional de Cinema em São Paulo




