Silvio Santos Vem Aí (Brasil, 2025)
Título Original: Silvio Santos Vem Aí
Direção: Cris D’Amato
Roteiro: Paulo Cursino
Elenco principal: Leandro Hassum, Manu Gavassi, Regiane Alves, Marcelo Laham, Gabriel Godoy e Hugo Bonèmer
Duração: 91 minutos (1h 31min)
Distribuição: Paris Filmes
Gostando ou não gostando da figura pública ou do programa do Silvio Santos, é inegável a sua importância para a história do país. Seja pela relação carinhosa das crianças nos anos 1990 com a programação infantil do SBT, seja por acompanhar mães, avós, ou até mesmo ser a pessoa assistindo aos seus shows na televisão, é rara a pessoa que não teve nenhum contato com Silvio. Não à toa, mesmo antes do seu falecimento no ano passado, muitos produtos audiovisuais foram feitos para contar um pouco de sua história. Silvio Santos Vem Aí segue nessa mesma linha, mas escolhe um recorte específico que torna toda a situação ainda mais interessante: a candidatura do comunicador para a eleição de 1989, a primeira que ocorreu após o fim da ditadura militar do país.

A obra adota a mesma postura chapa-branca do que as outras vistas recentemente, até porque não quer lidar com o legado deixado pelo artista ou se comprometer com parte da audiência. Mesmo contando uma história que é intrinsecamente política, evitam-se os jargões específicos e apenas se faz um apanhado histórico rápido para situar um espectador que desconheça os fatos. Fala-se muito sobre o clima político do país, mas é difícil enxergá-lo na vida ou nas ações dos personagens, o que faz com que a obra perca parte de sua credibilidade. Ainda mais ao colocar uma publicitária, Marília (Manu Gavassi) ao lado de Silvio (Leandro Hassum), espera-se um pouco mais de conflito ético, mas este nunca realmente chega.
Além desse mal sofrido pelo roteiro, ele também se torna menos acessível ao público por colocar excesso de exposição nas falas dos personagens. Ignorando a necessidade de manter as falas críveis para quem o assiste, muitas vezes nos deparamos com personagens falando coisas óbvias uns para os outros, apenas para que o público tenha acesso àquela informação. Por outro lado, ele tem uma decisão muito interessante de apresentar a história do apresentador através dos quadros de sua programação de domingo, que contava com o apresentador em diversos tipos de shows. Do programa de namoro que apresenta a sua relação com Íris (Regiane Alves), momentos que exploram a sua relação com os pais e até com sua falecida primeira esposa, normalmente todos esses pequenos flashbacks são colocados de maneira inteligente através desses programas.
Mesmo sabendo que Leandro Hassum é um ator que funciona muito bem para a comédia, a sua atuação como Silvio é surpreendente não apenas nos momentos mais divertidos. Evitando a simples caricatura, que seria um caminho mais óbvio, ele realmente demonstra um estudo de trejeitos e cacoetes que criam uma ilusão muito melhor do que a simples imitação. Só que ao escolher Manu Gavassi para co-protagonizar a obra, deixou-se a ela a difícil tarefa de criar uma personagem cujo carisma se aproximasse de seu colega interpretando Silvio. Como se poderia imaginar, infelizmente isso não acontece, fazendo com que a discrepância entre as atuações se torne mais um empecilho dado o protagonismo de Gavassi.
O longa-metragem se encontra em uma situação de altos e baixos. Há uma cena, por exemplo, na qual Marília conversa com Lombardi, que nunca teve seu rosto exposto ao público. Faz-se toda uma brincadeira com jogo de ângulos e movimentação para que o mistério permaneça no filme, gerando uma cena realmente empolgante. Por outro lado, na maior parte das cenas sentimos um incômodo geral com a direção de arte, que por muitas vezes parece não saber que a obra é de época, e localizada nos anos 1980. Desde tecidos que parecem modernos até a escolha de locações com uma arquitetura excessivamente contemporânea, esses detalhes vão se somando e gerando uma pobreza visual para a obra.
Longe do pior cenário que poderia se imaginar, mas ainda indo na onda das obras que evitam pegar nas feridas do homem que ainda é ídolo de muitas pessoas, o filme consegue entreter o público e homenagear Silvio Santos.




