Ninguém Quer, 2ª Temporada (EUA, 2025)
Título Original: Nobody Wants This
Roteiro: Jenni Konner e Bruce Eric Kaplan (showrunners e roteiristas principais), com Erin Foster como criadora e produtora executiva
Elenco principal: Kristen Bell, Adam Brody, Justine Lupe, Leighton Meester, Arian Moayed, Alex Karpovsky
Quantidade de episódios: 10
Disponível em: Netflix
Ninguém Quer, série criada por Erin Foster, retornou à Netflix tentando provar que o amor, e a fé nele, ainda sobrevivem em tempos de romances instantâneos e identidades espirituais fragmentadas. Se a primeira temporada conquistou o público ao unir o improvável romance entre uma podcaster agnóstica (Kristen Bell) e um rabino (Adam Brody), a segunda chega com mais cuidado, menos caos e um pouco menos do brilho que transformou a estreia em um respiro dentro das comédias românticas atuais.

A dinâmica entre Joanne e Noah continua encantadora, e parte disso vem da química inegável entre Bell e Brody. Uma combinação que, por si só, já atiça a nostalgia de millennials que cresceram com Veronica Mars e The O.C.. Mas o que sempre diferenciou Ninguém Quer era o jeito honesto com que tratava temas complexos: conversão religiosa, inseguranças amorosas, culpa, desejo e identidade. Tudo isso envolto em humor inteligente e diálogos afiados.
Na segunda temporada, porém, essa tensão entre fé e romance se acomoda. Troca o risco pela segurança e o desconforto pela fofura. A série continua brilhando, mas perde intensidade, como se estivesse vivendo da memória de quem já foi na primeira temporada. A entrada dos novos showrunners, Jenni Konner e Bruce Eric Kaplan (de Girls), reorganiza a bagunça emocional deixada anteriormente, porém também suaviza conflitos quedavam alma à trama.
Ainda assim, há elementos que merecem ser exaltados. Um deles é a maneira como a produção evita cair em clichês românticos que outras séries assumiriam sem piscar. Nada de ex que causa caos por cinco episódios, mal-entendidos intermináveis ou sogras sabotadoras que arrastam a narrativa. Aqui, um conflito surge e, em minutos, é resolvido com uma conversa franca, algo tão simples e, ao mesmo tempo, revolucionário no gênero. Talvez seja por isso que o público torce pelo casal: porque eles, de fato, se escutam.
A série também corrige, ainda que tenha demorado para isso, o olhar sobre suas personagens femininas judias. Esther (Jackie Tohn) ganha profundidade, enquanto as participações de Seth Rogen e Kate Berlant como rabinos progressistas adicionam o humor ácido e um toque de espiritualidade.
Do outro lado, Morgan (Justine Lupe) e Sasha (Timothy Simons) roubam cenas como os “irmãos fracassados”, garantindo alguns dos momentos mais genuinamente engraçados. A química entre os dois funciona tão bem que dá vontade de acompanhar uma série só deles.
Mesmo com algumas falhas, Ninguém Quer ainda acerta em cheio quando fala do amor depois da fase da paixão, quando a vida atrapalha, os medos apertam e as certezas se tornam raras. A relação entre Noah e Joanne é o retrato perfeito do esgotamento da geração: duas pessoas tentando acreditar uma na outra enquanto o mundo inteiro parece exigir respostas imediatas.
O final da temporada talvez beire o clichê que a série tenta despistar durante os 10 episódios, mas deixa o público com aquele sorriso de quem ainda acredita que, entre uma playlist pop e outra, existe espaço para vulnerabilidade verdadeira. Não é mais a mesma série ousada que começou, mas continua sendo um retrato doce e honesto de um amor que vive menos de certezas e mais de tentativas.
E convenhamos: isso já é um pequeno milagre.


