The Paper (EUA, 2025)
Título Original: The Paper
Roteiro: Greg Daniels e Michael Koman
Elenco principal: Domhnall Gleeson, Sabrina Impacciatore, Tim Key, Oscar Nuñez, Eric Rahill, Duane R. Shepard Sr., Allan Havey, Mo Welch
Quantidade de episódios: 10
Disponível em: HBO Max
É fácil esquecer que The Office, hoje um ícone da comédia, levou tempo para conquistar o público. Sua primeira temporada quase foi a última. O constrangimento, humor ácido e personagens que ainda buscavam personalidade não conquistaram o público na hora. Curiosamente, é esse mesmo espaço para amadurecer que The Paper pede aos espectadores. E, assim como aconteceu com Michael Scott e companhia, a paciência compensa.

A nova série nasce de uma inquietação de Greg Daniels: como atualizar o formato mockumentary para um mundo em que o cotidiano mudou, o jornalismo encolheu e o público se acostumou a outro tipo de comédia? Ao lado de Michael Koman, Daniels troca as mesas da Dunder Mifflin pelo ambiente igualmente decadente (e mais atual) de um jornal impresso à beira da irrelevância: o fictício Toledo Truth Teller.
O editor-chefe recém-contratado Ned Sampson (Domhnall Gleeson) chega a Toledo com a ingenuidade de quem acredita que ainda é possível salvar um jornal de papel na era digital. Gleeson, sempre competente, mistura um pouco da doçura de Jim, a fragilidade emocional de Andy e a esperança de Michael Scott, mas sem imitar nenhum deles. Já Mare Pritti (Chelsea Frei), ex-jornalista militar, funciona como uma versão atualizada da “Pam que deu certo”, menos romântica e mais impactada por um mundo que cobra dureza emocional.
O elenco ao redor, por sua vez, assume ecos de personagens clássicos sem depender deles. Esmeralda (Sabrina Impacciatore) carrega o exagero excêntrico que remete ao caos de Michael; Ken (Tim Key) é o puxa-saco que flerta com a obsessão de um Dwight dos anos 2020. Mesmo assim, The Paper se recusa a ser apenas um recorte nostálgico. É uma série que conhece sua herança, mas tenta se erguer sobre as próprias pernas, e consegue.
Se The Office explorava o desconforto como combustível para seu humor, The Paper aposta em algo mais brando, e isso não é um defeito. O constrangimento permanece, mas assume a forma de pequenos ruídos sociais e profissionais, muito mais alinhados à crise contemporânea do jornalismo e ao limbo ético das redações atuais.
Com dez episódios e uma segunda temporada já garantida, The Paper passa com dignidade pelo teste mais difícil: provar que pode existir sem ficar na sombra de The Office. E faz isso justamente ao construir um tom mais doce, mais observador e, de certa forma, mais maduro. Seus personagens são menos caricatos e mais gente tentando sobreviver a um mercado difícil, a egos frágeis e a sonhos frustrados.
Se The Office precisou de duas temporadas para se encontrar, The Paper já sabe quem é desde o começo. Só precisa que o espectador, assim como os documentaristas que a seguem, esteja disposto a observar mais de perto esse pequeno (e adorável) caos jornalístico.


