Crítica | 14º Olhar de Cinema | Apenas Coisas Boas

Apenas Coisas Boas (Brasil, 2025)

Título Original: Apenas Coisas Boas
Direção: Daniel Nolasco
Roteiro: Daniel Nolasco
Elenco Principal: Lucas Drummond, Fernando Libonati, Liev Carlos, Renata Carvalho, Igor Leoni, Guilherme Théo, Norval Berbari e Lizz Miranda
Duração: 108 minutos

Aviso: essa é uma crítica com spoilers relevantes sobre a trama do filme.

Durante todos os dias de festival, a única sessão que foi precedida por um aviso de atenção com a classificação indicativa foi Apenas Coisas Boas. Assistindo ao filme, é rapidamente perceptível o motivo do aviso, com muitas cenas de nudez e de sexo explícito – mesmo que isso esteja perfeitamente colocado dentro da proposta de cinema queer apresentada.

Começamos a obra com um acidente de moto, no qual os protagonistas Antônio (Lucas Drummond) e Marcelo (Liev Carlos) se conhecem. Marcelo cai perto da fazenda de Antônio, e este gentilmente cuida dele até sua recuperação. Por conta do cenário rural, a comparação com O Segredo de Brokeback Mountain (2005) é um tanto inevitável, mas a semelhança é restrita a este primeiro momento. Num primeiro momento, conhecemos a história de como este amor se inicia, com um romance passional entre o motoqueiro e o fazendeiro, assim como as suas consequências dentro de um universo estruturalmente homofóbico. Depois, partimos para um Goiás mais moderno e urbanizado, em uma cobertura, falando sobre a evolução fictícia desse romance que na realidade já havia sido encerrado.

Talvez uma de suas melhores qualidades seja essa exploração do avanço dessa relação LBTQIAPN+ de maneira sombria, com um viés que brinca com o cinema de gênero, mas que na verdade tem um fundo muito realista. É até interessante pensar sobre a quantidade de pessoas com as quais conversei depois do filme e que adoraram sua primeira metade, mas acharam a segunda difícil de digerir – e acredito ser essa exatamente a função da obra. A obra brinca com esse contraste entre o relacionamento super idealizado do início com a possibilidade de desgaste provocado por uma vida inteira juntos sem resolver os problemas que são comuns em todas as relações, inclusive as LGBT+.

Ou seja, a percepção do público sobre a estrutura de roteiro mostra o quanto a obra incomoda por trazer esse elemento de não idealização. Ele utiliza esses elementos mais comuns em dramas heterossexuais e os transpõe para a minoria gay, conseguindo subverter a trama. Com isso, ele consegue criar um filme queer tanto em formato quanto em conteúdo, brincando com a noção do que os espectadores poderiam esperar.

É necessário dizer que, para além da temática, a forma do filme também é bem interessante. Muitas vezes ele brinca com elementos do campo poético, como a própria morte dos amantes, ou de criar estruturas de roteiro que claramente manipulam o espectador, como o abandono de um animal doméstico. O diretor apresenta um controle grande de seu conteúdo. E tudo isso é somado a uma equipe técnica que apresenta o básico muito bem feito, como ao criar os ambientes em que esses personagens habitam sem nunca nos fazer duvidar desses espaços fictícios.

Eu daria de conselho que, a não ser que você tenha uma relação muito tranquila com a sua família, este provavelmente não é um filme que você vai querer ver com seus pais. Mas, se você busca uma trama LGBT+ que foge do convencional, aqui temos um belíssimo exemplo.

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