Crítica | 49ª Mostra de São Paulo | Pai Mãe Irmã Irmão

Pai Mãe Irmã Irmão (Estados Unidos, Irlanda e França, 2025)

Título Original: Father Mother Sister Brother
Direção: Jim Jarmusch
Roteiro: Jim Jarmusch
Elenco principal: Tom Waits, Adam Driver, Mayim Bialik, Charlotte Rampling, Cate Blanchett, Vicky Krieps, Sarah Greene, Indya Moore e Luka Sabbat
Duração: 110 minutos (1h 50min)

Grande vencedor do Festival de Veneza 2025 é drama familiar antológico com vibe pressão baixa

Quando Pai, Mãe, Irmã e Irmão levou o Leão de Ouro da 82ª edição do Festival de Cinema de Veneza, há cerca de dois meses, muitos criticaram a escolha cômoda. O argumento era de que havia outros filmes com temáticas mais urgentes da contemporaneidade que mereciam o prêmio, como A Voz de Hindi Rajab.

Eu não assisti ao longa de Kaouther Ben Hania, que acabou ficando com o Leão de Prata, mas conferi outros títulos da mesma seleção — como Coração de Lutador, de Benny Safdie, e Bugonia, de Yorgos Lanthimos — e diria que eles têm bem mais personalidade que o filme de Jim Jarmusch, mesmo que também não sejam obras-primas incontestáveis.

Em Pai, Mãe, Irmã e Irmão, acompanhamos três famílias diferentes. A primeira história se passa no nordeste dos EUA, onde dois irmãos visitam o pai, um homem financeiramente quebrado, solitário e manipulador, após um longo período afastados. A segunda se passa em Dublin, na Irlanda, e segue duas filhas completamente opostas que vão visitar a mãe em um elegante chá da tarde, uma tradição anual do trio. Por fim, a terceira família, formada apenas por um par de gêmeos que perdeu os pais recentemente, vive em Paris e tenta lidar com o luto.

Apesar das diferenças culturais e de contexto, as três famílias são mais semelhantes do que parecem. Todas compartilham um certo distanciamento das pessoas que — supostamente — deveriam ser as mais próximas. Os personagens não sabem quase nada uns sobre os outros e performam intimidade porque essa é a máscara social mais aceitável. Como diz o ditado: “só mudam de endereço”.

Além do enredo em comum, Jarmusch também traça paralelos simbólicos entre os núcleos, repetindo cenas e diálogos. O plano em câmera lenta dos rapazes andando de skate, as peças vermelhas do figurino — símbolo do laço sanguíneo, talvez a única coisa que os une — e um relógio Rolex. Esses elementos acabam tornando o filme redundante, como se bastasse assistir a uma das histórias para entender todas. Seria melhor se o diretor tivesse feito um curta-metragem em vez de uma antologia de narrativas quase idênticas.

Pai, Mãe, Irmã e Irmão foi meu primeiro contato com o cinema de Jarmusch, e eu teria parado por aqui mesmo se não fosse por algumas amigas críticas que também não se encantaram com este, mas recomendaram outras obras dele, como Amantes Eternos. O fato é que o drama familiar tem uma “vibe pressão baixa” que dá vontade de sair da sala, pedir um sachê de sal, colocar debaixo da língua e voltar para a poltrona.

A direção insiste em filmar as cenas sob todos os ângulos possíveis, o que torna o resultado expositivo demais. As atuações também são blasé: nem mesmo Adam Driver e Cate Blanchett, os nomes mais estrelados do elenco, parecem empolgados de estar ali.

Por fim, a fotografia simétrica e ultra nítida de Yorick Le Saux (Adoráveis Mulheres, Amantes Eternos) e Frederick Elmes (Veludo Azul, Eraserhead) deixa pouco espaço para a subjetividade visual. Pai, Mãe, Irmã e Irmão é temática e formalmente estéril e provavelmente só será lembrado daqui a alguns anos (se for) como o filme que tirou o Leão de Ouro de A Voz de Hindi Rajab.

Filme assistido na 49ª Mostra Internacional de Cinema em São Paulo

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