Crítica | 50º TIFF | Laundry

Laundry (Suíça, África do Sul, 2025)

Título Original: Laundry
Direção: Zamo Mkhwanazi
Roteiro: Zamo Mkhwanazi
Elenco principal: Siyabonga Melongisi Shibe, Ntobeko Sishi, Bukamina Cebekhulu, Zekhethelo Zondi, Tracy September
Duração: 1h 45 min (105 minutos)

Talvez o regime sul-africano do apartheid seja conhecido como um dos segregamentos raciais mais brutais do século XX, com uma política que durou décadas e deixou cicatrizes profundas em todo o funcionamento do Estado. Ainda que este seja um fato conhecido, são poucos os filmes de ficção que chegam ao público brasileiro que retratam este período, tanto pelo pouco acesso que temos aos cinemas africanos quanto por uma questão de este ser o tipo de assunto que precisa ser trabalhado com muita delicadeza para gerar uma obra equilibrada. É uma mistura entre a necessidade de mostrar a exploração e os absurdos existentes no período, mas tentar ao mesmo tempo não criar personagens que sejam pautados apenas em seu sofrimento.

E aqui reside a importância da obra ter como diretora e roteirista Zamo Mkhwanazi, que além de ser uma mulher sul-africana, também tem em seu currículo mais de 900 episódios de Generations: The Legacy, uma das novelas de maior sucesso da televisão do país e que segue no ar desde 2014. Ao mesmo tempo em que ela está trabalhando um período histórico específico através de uma população marginalizada, ela consegue compreender e transmitir algumas nuances que não são óbvias para o espectador fora do país. No início do filme, por exemplo, é difícil compreender qual é a situação daquela família, que parece ter alguns privilégios em relação ao resto da população negra. Aos poucos, somos introduzidos à questão da medalha carregada pelo pai e as portas que ela um dia já abriu – criando um conhecimento aos que, como eu, não conhecem tanto da história do país, mas sem precisar explicar essas informações de forma repetitiva e cansativa em tela.

Nos deparamos então com uma experiência humana absolutamente comum colocada em uma situação bastante específica. O que acompanhamos é a história do filho mais velho da família, que se encontra em um momento de dúvida entre seguir com o negócio próspero do pai ou seguir os seus próprios impulsos criativos e, mesmo em uma situação desfavorável, tentar a sua carreira na música. Essa situação que acompanha praticamente qualquer pessoa em sua fase de fim da adolescência só ganha os contornos trágicos por conta da situação do país, cujo cerco se fecha em torno da população negra a cada dia. A história aos poucos passa do drama para a tragédia, criando essa situação de reflexo entre os acontecimentos históricos e a sua vida.

Existem algumas questões que trazem o filme para um universo já muito conhecido pelo público brasileiro, mas que nem por isso fazem com que a qualidade audiovisual da obra seja maior. O primeiro é a dramaticidade muito semelhante à de novelas, com tramas familiares em primeiro plano e alguns momentos com base no melodrama. E, assim como aqui, em alguns momentos o filme parece utilizar o filtro amarelado que Hollywood costuma trazer para filmes passados em países que não são considerados pelos estadunidenses de primeiro mundo. Aqui, por desconhecer mais do cinema sul-africano, acredito que pode ser um caso de colonização cultural, mas seria necessário aprofundamento para compreender razões culturais que fogem ao meu conhecimento.

Por outro lado, a obra mostra um controle do som que é reconfortante dada a sua proximidade com o universo da música. Da trilha sonora que está presente nos momentos mais marcantes, passando pelo uso de sons de carros e mecanismos das máquinas de lavar para marcar algumas situações, percebe-se um desenho bastante intrincado dos acontecimentos. E, quando a obra acaba e seus créditos sobem, mas seguimos ouvindo o som de sua última cena, a diretora mostra um controle dilacerante de como manipular a narrativa de forma ainda sensível, sem precisar nem da imagem.

Deixe um comentário

O seu endereço de e-mail não será publicado. Campos obrigatórios são marcados com *

Rolar para cima