Crítica | 75ª Berlinale | Ari

Ari (França, 2025)

Título Original: Ari 

Direção: Léonor Serraille

Roteiro: Léonor Serraille

Elenco principal: Andranic Manet, Pascal Rénéric, Théo Delezenne, Ryad Ferrad, Eva Lallier, Lomane de Dietrich e Audrey Bonnet

Duração: 88 minutos

Começando com a atmosfera de um sonho, embalado pela afinação de um violão, somos apresentados a uma mulher e seu filho conversando sobre a origem do nome do rapaz, Ari. Além do belo texto sobre uma criança que vem para iluminar a vida dos pais, os planos-detalhes numerosos fazem com que o espectador consiga compreender a proximidade entre eles.

Logo somos transportados para esse mesmo menino, agora um homem, tentando dar aula para um grupo de crianças enquanto é avaliado por uma mulher. À beira de um ataque de pânico, Ari (Andranic Manet) tenta de todas as formas retomar o controle e passar o recado aos alunos, mas não consegue perceber a inadequação da mensagem que deseja passar em relação ao público, que são crianças pequenas. Essa inadequação é o que vamos sentir durante o filme todo, enquanto ele é expulso da casa de seu pai (Pascal Rénéric) e perambula por Paris em busca de lugares para poder dormir.

Nesta obra sobre um jovem e uma geração em crise, somos apresentados a diversos tipos franceses, do casal herdeiro ao jardineiro da casa. Mais do que isso, somos convidados a adentrar as angústias dessa geração que não consegue compreender bem seu espaço no mundo, e ao invés de lidar com isso prefere prorrogar os problemas, chegando a uma adolescência tardia e até irritante que nos deixa implorando para que os personagens façam terapia.

Então, nesse filme-terapia que nos encontramos, seguimos compreendendo quais são os reais medos e traumas do rapaz, com pequenas cenas de flashback aparecendo no meio da progressão da narrativa. Com uma coloração e iluminação diferenciadas, conseguimos entender qual foi o evento que realmente marcou a sua vida, e como a maturidade que agora lhe é exigida foi colocada à prova. E, por mais que ele tente evitar os estereótipos burgueses europeus através da história de seus amigos, aos poucos compreendemos que essa é uma história já contada e recontada no cinema, dessa vez com um olhar mais introspectivo e auto centrado.

A obra funciona melhor nesses momentos de reflexão do que quando coloca um excesso de diálogos que parecem colocados ali apenas para nos mostrar como é a situação do jovem francês. Nas cenas em que Ari simplesmente observa os seus arredores ou interage com o ambiente, acabamos criando a conexão com o personagem, mas ainda é difícil para alguém não europeu conseguir se conectar com o tipo de problema que é apresentado.

O mesmo acontece com a resolução do filme, que nos parece abrupta e sem sentido. Mesmo com a escolha de terminar o filme de maneira positiva, passando uma mensagem de esperança para esse jovem perdido, nada constrói a situação que é apresentada. Ao acender das luzes, as caras inconformadas na sala de cinema mostram que, realmente, a obra deixa a desejar em seu terceiro ato.

Deixe um comentário

O seu endereço de e-mail não será publicado. Campos obrigatórios são marcados com *

Rolar para cima