Crítica | 75ª Berlinale | Ato Noturno

Ato Noturno (Brasil, 2025)

Título Original: Ato Noturno
Direção: Filipe Matzembacher e Marcio Reolon
Roteiro: Filipe Matzembacher e Marcio Reolon
Elenco principal: Gabriel Faryas, Cirillo Luna, Henrique Barreira, Ivo Müller, Kaya Rodrigues, Larissa Sanguiné e Gabriela Grecco
Duração: 117 minutos

Existe uma máxima brasileira que já se tornou até fantasia de carnaval que é o “liberal na economia, conservador nos costumes”, e infelizmente essa é a realidade de grande parte das pessoas de classe média-alta do país. O que a nova obra de  Filipe Matzembacher e Marcio Reolon parece nos mostrar são as últimas consequências dessa máxima na vida das pessoas LGBTQIAPN+ do país.

A dupla de diretores já é queridinha do Festival de Berlim, tendo estreado grande parte de seus filmes nele. Em Ato Noturno somos apresentados a Matias (Gabriel Faryas), um ator de teatro que está em uma peça com seu colega de casa Fabio (Henrique Barreira), com quem também está disputando um papel em uma série com distribuição nacional. No seu tempo livre, ele acaba saindo com homens que conhece em aplicativos de relacionamento, e é exatamente o que acontece na noite em que ele conhece Rafael (Cirillo Luna), que deixa claro que só quer sexo casual por não ser uma pessoa publicamente homossexual. Mas a conexão entre eles realmente acontece quando eles descobrem ter um fetiche em comum: o sexo em lugares públicos. Logo descobrimos que Rafael está concorrendo como prefeito de Porto Alegre, e assumir um relacionamento poderia fazê-lo perder popularidade.   Mas já é tarde para os dois apaixonados, e se inicia uma mistura entre drama e thriller para eles seguirem escondendo a sua relação.

Os diretores mostram novamente um controle pleno das dimensões do audiovisual, conseguindo manter o espectador na ponta da cadeira esperando os próximos desenrolares de acontecimentos. Com um roteiro que dá pequenas pistas para nos mantermos atentos aos acontecimentos e cenas de tensão – e tesão – que nos deixam igualmente tensos com a possibilidade deles serem descobertos, vamos navegando por esse limite entre o desejo e a possibilidade, pensando em todas as consequências caso eles sejam pegos.

Assim como em suas obras anteriores, a fotografia tem um papel criativo importante, com o jogo entre as luzes e sombras sendo particularmente importante para o que eles estão fazendo. Incorpora-se também um toque queer com as luzes coloridas, tão presentes na vida de festas LGBT e que são replicadas também no apartamento quando necessário. O mesmo acontece com toda a cenografia, que consegue aproveitar as particularidades de Porto Alegre, como as suas grandes escadarias, mas também tem sempre um toque de modernidade ao acrescentar figurinos que se destacam e até um look completamente fetichista.

Com um discurso final já bem conhecido, mas que não por isso deixa de ser verdade, a obra consegue manter o seu elemento de tensão do começo ao fim e nos faz gostar de seus personagens, mesmo sabendo quais são os seus principais defeitos. E agora, ficamos curiosos para saber qual será o próximo projeto dos diretores.

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