Blue Moon (EUA, 2025)
Título Original: Blue Moon
Direção: Richard Linklater
Roteiro: Robert Kaplow
Elenco principal: Ethan Hawke, Margaret Qualley, Bobby Cannavale, Andrew Scott, Simon Delaney, John Doran, Patrick Kennedy e Jonah Lees
Duração: 100 minutos
Nunca se sabe exatamente o que esperar de um novo filme de Richard Linklater. Conhecido tanto por sua trilogia do Antes quanto por obras como Jovens, Loucos e Rebeldes (1993), Boyhood (2004) e Assassino por Acaso (2023), ele já demonstrou sucesso em dirigir quase todo tipo de filme. Então, ele tem em suas mãos um projeto que referencia a história da cultura estadunidense na mesma medida em que trata de um homem em declínio mental e físico. A conclusão óbvia é que desta mistura, cria-se um excelente filme.

A história toda se passa em um restaurante em Nova York, durante o lançamento do musical Oklahoma! em 1943. Acompanhamos Lorenz Hart (Ethan Hawke) passando por todos os estágios de ódio e ciúmes de seu antigo parceiro de composições Richard Rodgers (Andrew Scott), que assina a composição deste musical com um novo parceiro, Oscar Hammerstein II (Simon Delaney) durante o musical e a festa que o segue. Entre drinks, músicas e referências a Casablanca, entramos na mente deste homem que compreende que seu auge já passou, mas tenta segurar o tempo que lhe escorre pelas mãos por mais um minuto que seja.
O filme advém de um roteiro excelentemente pesquisado e com a capacidade de demonstrar em pequenos atos a situação tanto da pessoa Hart quanto do país EUA. Se temos um Hart alcoólatra e buscando pequenos pedaços de afetos entre desconhecidos e uma garota muito mais jovem do que ele (Margaret Qualley), temos um país já envolvido em uma guerra que lhe custaria a vida de muitos cidadãos, representados pelo jovem pianista que acompanha o desenrolar da história fardado, esperando ser enviado para a guerra.
Com a escolha de filmar a obra inteira apenas naquele ambiente e com o foco sempre no personagem de Hawke, duas questões se tornam essenciais. A primeira é a atuação, que é assombrosa quando se pensa na transformação física necessária para que o ator se assemelhe ao compositor, e que consegue transmitir os sentimentos de derrota até para uma pessoa que não faz ideia do que se trata o filme. A outra é a construção dos diálogos, que é também afiada e até bem humorada, sendo que as falas preenchem a maior parte da obra.
Trazendo um ar de nostalgia soturna, todo o figurino, locação e gestos são pensados para esse passado ao qual não se deseja voltar. Ao mesmo tempo, foca-se também em explicar a importância daquele momento para o que se tornaria uma nova tendência no musical estadunidense, com tamanha influência que Oklahoma! permanece tendo montagens recentes bem sucedidas ao redor do mundo.
Se existe um diretor que poderia transformar um roteiro já muito bom em uma obra que consegue entreter na medida em que causa uma reflexão sobre todo o sistema artístico de um país, ele é Richard Linklater. Se já na abertura temos a visão contrastante sobre Hart como uma pessoa extremamente divertida e ao mesmo tempo extremamente infeliz, o diretor leva isso às suas máximas consequências, colocando em tela um momento complexo através de uma forma clássica e funcional.