Living the Land (China, 2025)
Título Original: Sheng shi zhi di
Direção: Meng Huo
Roteiro: Meng Huo
Elenco principal: Cao Lingzhi, Shang Wang, Zhang Yanrong, Caixia Zhang e Chuwen Zhang
Duração: 132 minutos
Apesar do papel importante da internet e dos streamings para a globalização de conteúdo, a China continua sendo um país bastante distante para o brasileiro. Não conhecemos tanto da sua história, e menos ainda da sua produção cinematográfica, apesar deste ser um dos maiores públicos consumidores do mundo. Logo, não é simples coincidência que haja dois filmes chineses na competição principal do festival, mas sim um reflexo de uma produção prolífica a qual temos pouquíssimo acesso.

É difícil acessar algumas das noções exploradas na obra, uma vez que desconhecemos muito da cultura e da nostalgia que ela evoca, se tratando de um retrato dos anos 1990 em uma China que estava mudando de rumo econômico. É justamente assim que se justifica a narrativa: os pais de Chuang (Wang Shang) estão buscando novas oportunidades no Sul do país, e para isso precisam deixar a criança com os avós em uma vila rural. Então, acabamos conhecendo todos os membros de sua família e as dinâmicas que permeiam as suas relações.
Pensando geopoliticamente, este foi um momento muito importante para a história do país, principalmente se considerarmos sua abertura comercial, essencial para a sua modernização tecnológica e para o país se tornar a potência econômica que é hoje. Mas o filme não se preocupa em dar muitos detalhes sobre essa questão, assim como outras como a lei do filho único. Ele tem muito clara a história que quer contar, desta família e da mudança de tradições a partir de suas experiências. E cada momento enquadrado em tela é brilhantemente utilizado para nos fazer refletir sobre algum acontecimento, relação ou tratamento dado a algum dos personagens.
Como um filme de amadurecimento, ele mostra a trilha percorrida por Chuang para conseguir, finalmente, parar de fazer xixi na cama, algo que seus pais consideram muito importante para que ele passe para uma nova etapa da vida. Mesmo que em muitos momentos não se compreenda imediatamente como a questão retratada em tela se relaciona com isso, sendo sua ida para a escola ou o momento de colher o algodão plantado, todos esses traços vão se interligando para chegar a um momento final que retrata esse crescimento.
O que torna a obra ainda mais especial é a maneira de captar as imagens escolhidas pela direção junto à direção de fotografia. Ao contrário do que tem parecido ser uma tendência no cinema comercial estadunidense, utiliza-se uma alta saturação para transmitir a riqueza de detalhes daquele universo. Planos em conjunto de uma grande família conseguem ser equilibrados por uma movimentação de personagens e diálogo que sempre deixam clara a direção que se gostaria que compreendesse a cena, mas com espaço o suficiente para se entender muitas outras narrativas dentro desse filme. Há espaço suficiente para que cada um de seus muitos personagens se desenvolva, criando uma vida além de telas que os torna mais realistas.
Mesmo com esses elementos que poderiam ser considerados alienígenas, o filme consegue criar uma conexão extremamente real ao tratar de uma visão nostálgica do que é amadurecer. Existem experiências universais, como a morte, o amor, os encontros e desencontros, que estão retratados de formas específicas e detalhadas, mas que conseguem se comunicar com qualquer pessoa que tenha passado pela mesma sensação, mesmo com ritos completamente diferentes.
Através da universalidade, somos levados a um pequeno vilarejo da China e nele permanecemos muito depois das luzes acenderem. Assim como o personagem principal, saímos do cinema um pouco transformados por todas as situações que vemos em tela.