Timestamp (França, Países Baixos, Luxemburgo e Ucrânia, 2025)
Título Original: Strichka Chasu
Direção: Kateryna Gornostai
Roteiro: Kateryna Gornostai
Duração: 125 minutos
A guerra é uma das realidades que, infelizmente, sempre supera a ficção. Se é difícil para brasileiros pensar em como seria um cenário de conflitos diários com outro país ameaçando a paz, certamente o documentário Timestamp nos dá uma melhor dimensão do que é viver deste modo.

A obra acompanha diversas escolas ucranianas que precisaram se adaptar à nova realidade do país para poder seguir educando as novas gerações enquanto parte das mais velhas estão lutando. Com sua distância das fronteiras sendo o elemento central para discutir o quão protegidos são aqueles locais, precisamos encarar uma realidade na qual crianças pequenas já estão acostumadas à sinalização de ataques aéreos e automaticamente seguem para os abrigos. Conhecemos situações nas quais os jovens passaram todo o ensino médio fazendo aulas online pela impossibilidade de haver um local seguro para se encontrarem, uma escola subterrânea para evitar as interrupções e, em um dos momentos mais tristes do filme, o treinamento para crianças muito novas diferenciarem o que seria um urso de pelúcia de um urso de pelúcia com uma bomba.
Com esse assunto tão difícil e tão em voga na Europa, dado que o continente é diretamente afetado pelo conflito, compreende-se tanto o desejo por fazer o filme quanto a sua necessidade, considerando que a guerra ainda não acabou e esta será uma realidade para muitos, mesmo que ela acabe. Então, considerando essa realidade bélica, o filme tem a dificuldade de explorar mais qual é o efeito que isso tem no desenvolvimento dos jovens, quais são suas possibilidades de carreiras, seus planos e desejos.
Ou seja, sente-se a falta de certa forma de um olhar mais humano em relação às experiências individuais das crianças em oposição a esse olhar que busca colocar muitas experiências diferentes, mas acaba despersonalizando cada jovem. Fala-se um pouco com cada um deles, mas não se aprofunda em relação a nenhum. Abrem-se muitas possibilidades narrativas, só que muitas delas não chegam nem a se desenvolver melhor nem a se fechar.
O filme acaba parecendo mais uma reportagem, que inclusive é extremamente relevante tanto quando pensamos de forma a preservar essas imagens quanto em relação a mostrar essa realidade, do que como como uma narrativa fílmica. A linguagem e o meio acabam não sendo importantes, com a mensagem se sobrepondo a tudo.