Crítica | 75ª Berlinale | What Does The Nature Say To You

What Does That Nature Say To You (Coreia do Sul, 2025)

Título Original: Geu jayeoni nege mworago hani
Direção: Hong Sang-soo
Roteiro: Hong Sang-soo
Elenco principal: Kwon Hae-hyo, Ha Seong-guk, Cho Yun-hee, Kang So-yi e Park Mi-so
Duração: 108 minutos

Apesar da popularização de conteúdos sul-coreanos no Brasil, ainda existem certos hábitos e tradições que são bem desconhecidos no resto do mundo. Este é o caso do processo mostrado no novo filme de Hong Sang-soo, quando Dong-hwa (Ha Seong-guk) vai deixar a sua namorada Jun-hee (Kang So-yi) em casa e acaba sendo levado a conhecer toda a sua família. Mesmo já estando juntos há três anos, eles nunca haviam sido apresentados formalmente, e logo descobrimos que esse processo é um pouco diferente do que estamos acostumados.

A sociedade do país tende a ser bastante pautada pelo consumo, e o jovem rapaz é um poeta, mesmo sendo filho de um advogado bastante famoso. Isso é o suficiente para que o pai da garota, Oryeong (Kwon Hae-hyo), tenha um pé atrás em relação ao rapaz. Ainda assim, eles se permitem se conhecer, trocam conversas supérfluas sobre carros antigos e Jun-hee pode respirar um pouco, pensando que tudo funcionará a seu favor. Acompanhamos o casal até o final do dia, quando a família toda se reúne para jantar.

A natureza citada no título permanece sempre rondando os personagens principais, seja por conta da bela casa localizada numa montanha cercada por verde ou pelo passeio que eles vão fazer à tarde para deixar a casa livre para fazer a janta. Mais do que isso, a natureza também aparece como uma fonte de inspiração para a poesia, e como este elemento essencial para o dia a dia de todos. Talvez um pouco inspirado pela fluidez da natureza, o diretor também parece se deixar levar mais pelos instintos na direção deste longa. Não há um conceito radical de fotografia, como ocorrera em seu Na Água (2023), filmado todo sem foco, mas percebemos movimentos de câmera fluidos e que envolvem a falta de foco em alguns momentos.

Com seus longos diálogos que beiram a entrevista de emprego para pensar na aprovação ou não do candidato para o casamento com sua filha, somos lembrados também que essa é uma sociedade bastante patriarcal. Mesmo as cenas que parecem inocentes, como mostrar o galinheiro, ganham um significado quando pensamos nessa ótica e na necessidade de Dong-hwa de provar algo ao sogro. Ao longo da narrativa, vamos cada vez mais nos sentindo como fofoqueiros esperando o desenrolar dos fatos para podermos comentá-los, e o diretor sabe disso e coloca a cena final para cumprir os nossos desejos.

A espontaneidade vem de uma mistura entre os excelentes atores, sendo alguns já colaboradores de Sang-soo, e da capacidade do diretor de nos conectar com seus roteiros. Talvez pelo seu trabalho em muitas frentes do filme, sentimos algo de familiar e próximo, mesmo racionalmente compreendendo a distância dessa realidade para a do brasileiro.

Com uma produção prolífica, seria difícil dizer que este é o melhor filme do diretor. Ainda assim, é igualmente difícil dizer que não é uma experiência cinematográfica instigante e impressionantemente fluida.

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