A Origem do Mundo (França, 2020)
Original: L’origine du monde
Direção: Laurent Lafitte
Roteiro: Laurent Lafitte, Sébastien Thiery
Elenco: Laurent Lafitte, Karin Viard, Vincent Macaigne, Hélène Vincent,
Nicole Garcia
Duração: 98 min
Disponível em: Netflix
A Origem do Mundo é uma comédia francesa que mira no humor absurdo, mas acerta no besteirol à la estadunidense.
Jean-Louis Bordier (Laurent Lafitte) percebe que seu coração parou de bater. Apesar disso, ele parece saudável fisicamente. Com a ajuda do amigo veterinário Michel Verdoux (Vincent Macaigne), ele tenta encontrar uma resposta biológica até que sua mulher, Valérie Bordier (Karin Viard), decide levá-lo até a terapeuta espiritual Margaux (Nicole Garcia), que sugere uma cura inusitada – para dizer o mínimo.

A trama, adaptada da peça teatral homônima do roteirista Sébastien Thiéry (que por sua vez é inspirada no quadro polêmico de Gustave Courbet de 1866), explora a relação conturbada de Jean-Louis com a mãe Brigitte (Hélène Vincent), criando situações cômicas que abordam relação maternal e traumas de infância.
No primeiro ato, a premissa surreal é bastante original, provocando uma discussão sobre o que é estar realmente vivo. No entanto, o filme toma decisões totalmente inesperadas e, ao invés de explorar a crise existencial do personagem principal de forma inteligente e bem-humorada, enverga para uma comédia ácida de gosto bastante duvidoso.
O diretor Laurent Lafitte, que também interpreta o personagem principal, tenta emular o humor constrangedor, trazido à tona recentemente pela série The Office, se utilizando de interações embaraçosas e longas cenas de silêncio desconfortáveis entre os personagens.
No entanto, a história em si fica em segundo plano, e o filme é preenchido por recursos humorísticos que variam entre piada com a sogra, nudez, assédio e situações escatológicas. O que acaba ecoando os clichês saturados do besteirol americano do início dos anos 2000. Dessa forma, o constrangimento aqui não vem das cenas em si, mas das escolhas narrativas despropositadas e descoladas da realidade.
A comédia defasada contrasta com a ambientação contemporânea. A caracterização e os cenários são tão perfeitos que parecem irreais e artificiais, lembrando um comercial de TV. Esse é mais um elemento que reforça a inautenticidade do filme que, infelizmente, não convence nem na trama e nem na estética.
A Origem do Mundo é uma comédia pouco refinada que desperdiça bons atores e uma premissa com potencial, perdendo a oportunidade de fazer refletir através do humor. Geralmente, considero que mesmo um filme ruim tem seus méritos, mas neste caso, acredito que este não vale os 98 minutos da sua atenção.