Crítica | A Própria Carne

A Própria Carne (Brasil, 2025)

Título Original: A Própria Carne
Direção: Ian Sbf
Roteiro: Ian Sbf, Alexandre Ottoni, Deive Pazos
Elenco principal: Pierre Baitelli, Camillo Borges, Jorge Guerreiro, Luiz Carlos Persy, Jade Mascarenhas, George Sauma
Duração: 90 minutos
Distribuição: Cinemark Brasil

Mais do que um filme de terror, A Própria Carne é uma espécie de acontecimento no mercado de filmes brasileiro. Isso acontece porque a obra é fruto da imaginação da imaginação de Alexandre Ottoni e Deive Pazos, criadores de um dos maiores sites relacionados à cultura nerd, o Jovem Nerd. Além de fãs desse nicho, eles também foram fundadores do Nerdcast, podcast bastante relevante na cultura brasileira e que recentemente chegou ao seu 1000º episódio. Ainda que isso tenha pouca relação com a crítica em si, isso coloca o filme em uma espécie de acontecimento dentro do cinema nacional, com a migração de dois criadores de conteúdo vindos da internet muito famosos indo para o universo da produção.

E para quem, como eu, já consumiu bastante conteúdo relacionado à dupla, é impossível descolar este filme dos episódios de RPG que se tornaram tradicionais do podcast. Antes mesmo do início da jornada desses quase-heróis, temos uma cartela explicativa do contexto que será apresentado. Sem explicar muito sobre o que foi a Guerra do Paraguai e com foco na ação de seus personagens, três desertores do conflito, já se percebe que a obra realmente será focada nessa jornada específica. Então, é como se a cada nova cena fosse rodado um novo D20 para cada um dos personagens, e percebêssemos que cada um dos resultados vai ter a sua consequência na narrativa.

Nos juntamos então aos três soldados, Gabriel (Pierre Baitelli), Gustavo (Jorge Guerreiro) e Anselmo (George Sauma), sendo que cada um tem seus motivos para estar envolvido no conflito, algo que é explicado ao longo da trama. E somos introduzidos a esse universo já em um momento de tensão, com a sua fuga da batalha para desertar do conflito. Como a ação é a motivadora da maioria dos acontecimentos, acontece com certa frequência das cenas parecerem forçadas a acontecer de determinada maneira para que a trama siga andando. Ainda assim, os acontecimentos são interessantes o suficiente para que sigamos com eles enquanto eles encontram uma esperança de ajuda na casa em que moram o Velho (Luiz Carlos Persy) e a Garota (Jade Mascarenhas).

A partir desse momento, o filme parece assumir a sua verdadeira vocação, que é para o terror. Luiz Carlos Persy, que normalmente se envolve em produções como dublador, aqui tem muito espaço para brilhar e criar um personagem assustador cuja voz poderá te assombrar por alguns dias após a exibição. Mesmo que por vezes o resto do elenco não consiga acompanhá-lo, eles são bons o suficiente para que não aconteça um rompimento da crença da plateia naquilo apresentado em cena.

O que se torna um grande diferencial do filme é a sua capacidade de ir aos extremos, sem medo de sangue e cenas violentas. Isso se soma a uma direção de arte e figurinos que conseguem complementar o que está sendo apresentado e resultar em uma obra que cumpre o seu papel como entretenimento, mas que dificilmente será lembrada por grandes novidades criativas ou narrativas. Algo como um básico bem feito, com uma pitada de tempero advinda do contexto histórico.

Observando um pouco do ambiente online gerado a partir do filme, é perceptível que houve muita pesquisa envolvida em criar a ambientação que infelizmente não fica tão clara no filme. Talvez a publicação desses materiais indique uma nova tendência de integração entre a criação de conteúdo e o cinema, mas isso, felizmente, não substitui o fato que uma obra audiovisual precisa funcionar sozinha, sem o uso desses materiais de apoio, ainda mais porque nem todos os espectadores irão ver esses materiais.

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