Crítica | Amores Materialistas

Amores Materialistas (Estados Unidos e Finlândia, 2025)

Título Original: Materialists
Direção: Celine Song
Roteiro: Celine Song
Elenco principal: Dakota Johnson, Pedro Pascal, Chris Evans, Zoë Winters, Marin Ireland e Dasha Nekrasova
Duração: 116 minutos
Distribuição: Sony Pictures

Quando pensamos no que é o materialismo, a primeira definição que possivelmente vêm à cabeça de uma pessoa é a daquela pessoa que tem apego aos bens materiais e que os considera parte importante da vida. Mas, quando avançamos um pouco em refletir sobre a expressão, também podemos evocar o materialismo como corrente filosófica. Para os materialistas, a única coisa que realmente existe é a matéria, em oposição ao que poderia ser o espírito ou a ideia. Simplificando bastante, podemos pensar que o que existe são apenas as coisas palpáveis: bens de consumo, por exemplo, e toda a sua cadeia de produção como elemento essencial para que a realidade se forme.

Assim, considerando o primeiro longa-metragem de Celine Song, Vidas Passadas, é difícil acreditar que Amores Materialistas seria uma comédia romântica nos moldes mais clássicos. Mas é difícil pensar em outra possibilidade considerando o pressuposto do roteiro e todo o material de marketing, que colocam a história de uma mulher que trabalha em uma agência de encontros com foco em casamentos, Lucy (Dakota Johnson), que se vê confusa com os sentimentos entre o irmão milionário de um de seus clientes, Harry (Pedro Pascal), e seu ex-namorado ator e sempre correndo atrás de dinheiro, John (Chris Evans). Se para o público é difícil pensar nessa trágica escolha entre dois homens absolutamente bonitos, imagine para essa personagem que conhece os seus próprios defeitos e qualidades, além de conhecer profundamente o universo dos encontros e casamentos.

A própria personagem muitas vezes tem uma aproximação bastante materialista (no primeiro sentido da palavra) de toda a sua vida amorosa. Apesar de claramente ter um carinho pelo ex-namorado, desde o primeiro momento ela tem uma aproximação bastante fria sobre as relações humanas. Em uma cena específica, ao falar sobre uma de suas clientes pela qual ela nutre certo caminho, ela segue uma linha de pensamento específica: nem magra, nem gorda, nem extremamente bonita, nem feia, bem-sucedida mas não ridiculamente rica, bem formada, nem jovem, nem velha. E, com uma praticidade quase cruel, conclui que esta é uma mulher extremamente difícil de encontrar um par, porque ao mesmo tempo em que nada nela é realmente ruim, nada se destaca. Do mesmo modo que ela enxerga essa situação, podemos perceber que ela encara muitas questões de sua vida, e até mesmo a sua autoestima é afetada por essa matemática dos encontros humanos.

Aos poucos, por mais que se compreenda que o filme é uma comédia romântica em sua forma e nas convenções do gênero, como o aparecimento do homem que parece um príncipe encantado que vive em uma cobertura de luxo, viagens frustradas e relações complexas, o que a diretora consegue fazer é subverter toda essa roupagem para gerar uma reflexão que conversa muito com o seu primeiro longa-metragem sobre o quê é o amor. E, spoiler, apesar do seu título e contra todos os ensinamentos das comédias românticas, ele dificilmente vai ser materialista.

Só que mais do que um tratado sobre o amor, ele também é uma obra audiovisual que se mostra muito consciente disso, seja pelo uso de ótimos enquadramentos ou até mesmo pelo casting, que reúne Chris Evans, mais conhecido pelo seu papel como o super-heroi perfeito Capitão América, e Pedro Pascal, atual queridinho de Hollywood que faz questão de expor suas imperfeições e ansiedades. Infelizmente, o que se perde em toda essa história é a protagonista, pois Dakota Johnson entrega uma personagem que não se destaca – e isso não parece ser proposital para o roteiro. Sua falta de expressão faz com que mesmo os momentos mais emocionantes da obra se tornem excessivamente brandos, e a dificuldade de se conectar com essa história já distante apenas se torna maior.

Ainda assim, é difícil sair do filme sem uma pequena reflexão sobre o materialismo anunciado no seu título, ou sobre a formulação de um relacionamento bem sucedido – ou até mesmo o que seria esse sucesso. Mais um ponto para Celine Song, e mais um motivo para permanecermos atentos aos próximos passos de sua carreira.

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