Chefes de Estado (EUA, 2025)
Título Original: Heads of State
Direção: Ilya Naishuller
Roteiro: André Nemec, Josh Appelbaum e Harrison Query
Elenco principal: John Cena, Idris Elba, Priyanka Chopra Jonas, Jack Quaid, Carla Gugino, Paddy Considine e Sarah Niles
Duração: 116 minutos
Disponível em: Amazon Prime Video
Sinopse: O presidente americano e o primeiro-ministro britânico, alvos de uma ameaça externa, devem colaborar contra uma conspiração global.
Em tempos onde a ação virou um produto serializado de streaming, Chefes de Estado chega como mais uma tentativa de unir estrelas carismáticas a uma narrativa de conspiração global, com o verniz de entretenimento fácil e a pretensão de discurso geopolítico. O problema? Quase nada se sustenta além das intenções.

Dirigido por Ilya Naishuller, que já demonstrou domínio da linguagem visual e do ritmo em Nobody (2021), o longa parece hesitar a cada passo sobre o que exatamente quer ser. Há uma tentativa clara de construir uma trama política de proporções grandiosas, espiões internacionais, articulações diplomáticas na OTAN, super dispositivos tecnológicos, mas o resultado é uma salada narrativa que se leva a sério demais para ser comédia e pouco o suficiente para ser realmente instigante. É uma história que gira em falso, que acumula camadas de complexidade apenas para mascarar seu vazio temático.
Naishuller tenta imprimir algum senso de estilo às sequências de ação, mas elas soam domesticadas demais, não por falta de habilidade técnica, mas por limitação de escopo. A classificação indicativa PG-13 enfraquece qualquer tentativa de risco estético ou físico, minando a brutalidade controlada que marcou seus trabalhos anteriores. Há ideias de timing cômico aqui e ali, especialmente em momentos de montagem ou pequenas coreografias visuais, mas o filme opta pela segurança do previsível.
O que impede Chefes de Estado de naufragar completamente é o elenco. Ou melhor, os protagonistas. John Cena abraça sua persona cômica com eficiência, equilibrando a galhofa física com uma entrega solta e carismática, quase sempre consciente do absurdo ao redor. Idris Elba, por sua vez, oferece o contraste exato com uma sobriedade que impõe credibilidade mínima ao caos do roteiro. Ambos funcionam melhor do que o texto que lhes foi dado, sustentando com química e presença um enredo que, sozinho, pouco oferece.
Priyanka Chopra aparece como o elemento mais eficaz dentro do universo da ação propriamente dita, sua personagem é aquela que mais se beneficia das coreografias, mesmo que estas raramente escapem do genérico. Há ainda nomes secundários que surgem e desaparecem sem muito desenvolvimento ou função dramática, em mais um reflexo de um roteiro que prefere multiplicar agentes a desenvolver personagens.
É curioso, inclusive, como o longa ecoa outros produtos da casa, lembrando o insosso G20 na tentativa de criar uma ação centrada em lideranças mundiais. Mas ao tentar se colocar entre esses polos, acaba falhando em ambos. A sensação final é de um pastiche sem coragem: há a estrutura de um filme de espionagem, mas sem a tensão; há o molde da comédia, mas sem graça; há a promessa de risco, mas tudo termina estéril.
Chefes de Estado é mais um exemplar da síndrome do “grande elenco, pequena ambição”. Um produto típico do streaming, que aposta alto em nomes e baixo em ideias. Ao fim, sobra apenas a constatação de que mesmo diretores visualmente competentes, como Naishuller, não conseguem escapar da pasteurização quando o projeto é refém de um sistema que prefere a rotatividade ao impacto.