Crítica | Código Alarum

Código Alarum (EUA, 2025)

Título Original: Alarum
Direção: Michael Polish
Roteiro: Alexander Vesha
Elenco principal: Scott Eastwood, Sylvester Stallone, Mike Colter, Willa Fitzgerald, Ísis Valverde e D. W. Moffett
Duração: 95 minutos
Distribuição brasileira: Imagem Filmes

Quando o cinema de ação vira cinema catástrofe – da pior forma possível

Dizem que alguns streamings obrigam suas produções originais a abrir com uma cena inicial que já deixe bem claro ao espectador o que ele pode esperar do filme ou série que está começando a ver. Por exemplo: se for uma série de terror, a primeira cena do primeiro episódio tem que ser assustadora. Código Alarum funciona perfeitamente dentro dessa dinâmica. A cena inicial é uma catástrofe em todos os sentidos e, dali pra frente, é daí pra baixo. Sendo um filme de ação, o mínimo que se espera são cenas de ação bem feitas. A abertura do filme entrega lutas mal coreografadas, fotografia que não explora nem a coreografia da luta, nem o ambiente onde ela acontece, direção e montagem preguiçosas e genéricas e um roteiro que força, em questão de 10 segundos, um romance entre Joe e Laura (Eastwood e Fitzgerald) – os dois que estão a cena toda tentando se matar. Sério, eles se jogam da janela do segundo andar, caem em cima de um carro (que permanece intacto) e ela pergunta para ele: “você está ocupado depois disso aqui?” – um corte nos leva para cinco anos mais tarde e eles estão casados. 

Se você acredita que este roteiro não passaria por todas as etapas necessárias para se tornar um filme de verdade, com nomes como Stallone e Eastwood (mesmo que seja o filho) no elenco, não se assuste, eu também não acreditei no que estava vendo na telona. O filme parte dessa premissa (dois agentes secretos de agências diferentes que se apaixonam e decidem largar tudo e fugir para viver uma vida juntos) já um tanto clichê para contar uma história batida e confusa sobre espionagem. Ao longo do filme, somos apresentados a personagens que entram e saem da narrativa sem nenhum motivo aparente (algumas das quais simplesmente desaparecem e são esquecidas pelo roteiro). Uma destas, Bridgette, interpretada surpreendentemente bem por Isis Valverde, que consegue extrair o máximo possível de uma personagem um tanto rasa e mal escrita, é apresentada como uma amiga do casal, alguém importante na trama. Em menos de dez minutos de filme, vemos Bridgette ser assassinada a sangue frio ao lado de Joe, que reage à morte da amiga com uma piadinha ruim que só falta ser acompanhada de uma jogada de ombros. Quando o novo choque com a qualidade do roteiro passa, fica estabelecido que o vilão da trama, Orlin (Colter), é capaz de tudo para conseguir o que precisa – no caso, um pen drive que Joe encontra segundos antes em uma cena de um crime que aconteceu miraculosamente próximo ao local onde ele está.

Aos poucos, entendemos que Joe trabalhava para uma espécie de CIA secreta, que nunca mais o encontrou depois que ele pulou da janela lá no primeiro parágrafo. Claro que o roteiro inventa uma solução (ruim) que acaba revelando para eles a sua localização. Assim começa uma corrida entre a ex-agência de Joe, a própria CIA, a agência de Laura (supostamente Alarum, que ninguém sabe se existe de verdade) e a turma de Orlin para ver quem ficará com o pen drive e todas as informações super secretas que ele contém. Enquanto isso, Joe e Laura só querem conseguir sair disso tudo vivos e garantir que o pen drive não caia nas mãos erradas – mesmo que seja uma missão impossível para o espectador entender quais mãos são erradas e quais não são.

Como não basta um roteiro mal estruturado e uma direção preguiçosa que gera cenas de ação lentas e coreografadas como se a produção fosse uma peça da terceira série, os efeitos especiais dos tiros diversas vezes ficam fora de sincronia com o som e com a movimentação dos atores, nos distanciando ainda mais do filme e das cenas que deveriam servir de chamariz. 

Quando o filme termina, é possível entender quem sobreviveu, mas em questão de minutos eu já não lembrava mais qual foi o fim do pen drive. Talvez nem o roteirista nem o diretor saibam. Alarum existe? Fica aí o mistério. São só algumas das questões que o filme apresenta e logo perdem todo e qualquer sentido (sério, eu nem estou citando tudo). Um ponto triste nisso tudo é que em nenhum momento o filme se assume como uma narrativa que entende seu tom de galhofa e o abraça, no estilo Velozes e Furiosos. Em nenhum momento ele se permite “dar a volta” e se tornar um filme divertido de assistir. É impossível não sentir um pouco a sensação de oportunidade desperdiçada.  

Ao final dos 95 minutos do filme, que mais parecem 185, o roteiro ainda deixa uma ponta solta para uma possível continuação. Eu rogo a todos os deuses e deusas do cinema que nos privem disso. Um já foi mais do que o suficiente. 

RIP Bridgette. O roteiro te esqueceu, mas nós não!

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