Crítica | Fargo – Uma Comédia de Erros

Fargo – Uma Comédia de Erros (Estados Unidos, 1996)
Título Original: Fargo
Direção: Ethan e Joel Coen
Roteiro: Ethan e Joel Coen
Elenco principal: William H. Macy, Frances McDormand, Steve Buscemi, Peter Stormare, Kristin Rudrüd, Harve Presnell, Tony Denman, Larry Brandenburg, John Carroll Lynch, Bruce Bohne, Steve Park.
Duração: 97 minutos
Disponível em: Mubi

Fargo é uma excelente comédia policial com uma trama instigante que nos faz refletir sobre moralidade e aparências.

Na cidade de Fargo, no norte dos Estados Unidos, vive Jerry Lundegaard (William H. Macy), um gerente de concessionária endividado que contrata sequestradores para capturar sua esposa e extorquir o sogro rico. No entanto, as coisas não saem como o planejado e logo tudo vira um caso de polícia.

Assim, conhecemos Marge Gunderson (Frances McDormand), uma delegada experiente, sempre solícita e carismática, que vive com seu marido e que, grávida, é a responsável por investigar o caso.

As aparências enganam

Ao apresentar os personagens, os diretores e roteiristas do filme (Ethan Coen e Joel Coen), brincam com contrastes e estimulam a ressignificação de estereótipos – afinal, aqui ninguém é o que parece ser.

Logo na primeira cena, os sequestradores Carl Showalter (Steve Buscemi) e Gaear Grimsrud (Peter Stormare) agem como se fossem grandes profissionais na área, exigindo pontualidade de Jerry. No entanto, sua inexperiência e escolhas impulsivas ao longo do filme desencadeiam os incidentes violentos que acabam colocando todo o plano a perder. A dinâmica entre eles revela diferenças pessoais, trazendo detalhes que contextualizam suas ações e enriquecem a narrativa.

Jerry transmite uma aura de bom moço responsável – o clássico cidadão de bem. No entanto, além de encomendar o sequestro da própria mulher, está envolvido em esquemas de fraude e só pensa em dinheiro. Ele não tem relações próximas nem com sua família, nem com colegas de trabalho ou clientes.

No oposto, a chefe de polícia vive bem com seu marido (que assume o papel de dono de casa) e trata as demais pessoas com familiaridade e gentileza. No entanto, rapidamente percebemos que ela demonstra um raciocínio afiado, que destoa com sua aparência inocente. 

Atuações potentes

A cena em que Jerry e Marge finalmente se confrontam revela quem realmente são essas pessoas por trás das máscaras que eles convencionalmente usam: um picareta e uma investigadora implacável. É também o momento em que os atores demonstram toda sua capacidade de atuação, nos fazendo notar que, de certa maneira, interpretam papéis duplos – o que são e o que aparentam ser. O Oscar que Frances McDormand recebeu pelo trabalho no ano seguinte é mais que justificado.

Os planos abertos mostram a neve e o isolamento da cidade e dos próprios personagens que vivem nela. As cenas mais humorísticas são uma sátira da simpatia, do compadrio e da aparente inocência dos moradores da região.

O roteiro (vencedor do Oscar de 1997), além dos diálogos inusitados, traz cenas breves de ação e violência. A trilha se mescla aos sons do cotidiano, o que ajuda a criar o clima de tensão – sobretudo na cena final, na casa da montanha (sem spoilers!).

A relação de Marge com o ex-colega Mike Yanagita (Steve Park), embora sirva como construção da personagem da delegada, lança dúvidas quanto à real intenção de Mike e se haveria mais camadas a serem exploradas no personagem.

O final traz uma espécie de “moral da história” dos livros infantis, nos fazendo refletir sobre o que realmente importa na vida: estar com quem amamos. É um fim que desperta curiosidade sobre os desdobramentos seguintes. Não à toa, o filme rendeu uma série em 2014 e é mais um grande sucesso na carreira dos irmãos Coen.

No fim das contas, Fargo é um suspense cômico envolvente que, com sua mistura única de violência, humor e personagens complexos (que lembram bastante as obras da mesma época do Tarantino), deveria ser mais admirado e discutido.

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