White Snail (Áustria, 2025)
Título Original: White Snail
Direção: Elsa Kremser, Levin Peter
Roteiro: Elsa Kremser, Levin Peter
Elenco principal: Marya Imbro, Mikhail Senkov, Olga Reptuh, Andrei Sauchanka
Duração: 1h 55 minutos (115 minutos)
A primeira cena de White Snail já cria um grande resumo sobre o que veremos nas quase duas horas seguintes. Vemos uma mulher, Masha (Marya Imbro), com um saco de plástico na cabeça: a clássica representação da depressão e da ideação suicida. Em seguida, a obra parece que mudará um pouco de rumo, com a mulher em um hospital saindo para fumar e observando seu colega de quarto sendo levado para o necrotério. Como junto à essa narrativa, surge um visual bastante expressivo e característico, com alto contraste entre luz e sombra e inclusive o uso de iluminações coloridas, e parece que caminharemos em direção a uma obra mais neo-noir.

O grande problema do filme é que essa instabilidade em relação ao modo de trazer seu conteúdo segue durante toda a narrativa. Ainda que ele tenha execuções técnicas muito eficientes nas propostas que ele traz, ele acaba mudando tanto de uma cena para outra que é difícil compreender se há uma unidade estética. Isso poderia ser utilizado a favor da obra, mas a falta de intenção é tão palpável que infelizmente percebe-se que não é o caso.
O que se segue são praticamente duas horas de personagens pouco desenvolvidos, com até suas paixões sendo ofuscadas. Parece que se tenta alcançar alguma espécie de estudo de personagem com depressão, mas a falta de aprofundamento em suas questões internas e até mesmo em tratamentos médicos torna o longa uma viagem desgastante para qualquer pessoa que tenha algum conhecimento sobre questões de saúde mental.
Até mesmo a questão de estarem em um país de geografia e história recente tão peculiares quanto a Bielorrussia acaba sendo parcialmente ignorado, o que poderia trazer um pouco mais de nuance para a obra. Com exceção da questão da pintura, que é tratada com extrema hostilidade, não há muitos elementos que se referem à cultura local. Ainda que um dos diretores seja do país, há poucos elementos que indiquem que a história se passa naquele ponto específico do globo.
Assim, o que é vendido como uma história de amor entre duas pessoas à margem da sociedade acaba sendo lido apenas como mais uma história estereotipada entre duas pessoas que precisam fortemente de terapia e remédios e que buscam no amor romântico uma solução para algo que é muito mais profundo. Ainda que esteja acompanhado de ótimas atuações, de cenas tecnicamente impecáveis e de uma montagem que ainda consegue manter um ritmo, esse discurso é tão ultrapassado que assusta vê-lo ainda em voga nos anos 2020.