A Sapatona Galáctica (Austrália, 2025)
Título Original: Lesbian Space Princess
Direção: Leela Varghese, Emma Hough Hobb
Roteiro: Emma Hough Hobb
Elenco principal: Shabana Azeez, Bernie Van Tiel, Gemma Chua-Tran, Kween Kong, Madeline Sami, Jordan Raskopolous e Richard Roxburgh
Duração: 86 minutos
Desde que vi e ouvi diversos amigos críticos e jornalistas falarem sobre a exibição de A Sapatona Galáctica no Festival de Berlim, minha curiosidade sobre ele foi pras alturas. Vencedor do Teddy Awards na Berlinale, um dos mais importantes prêmios voltados para filmes LGBTIAPN+, a história de uma animação que mescla comédia e ficção sobre Saíra, princesa do planeta Clitópolis que precisa resgatar sua ex-namorada Kiki de sequestradores alienígenas brancos e héteros chega ao Brasil de forma muito oportuna dentro da programação do Festival Mix.

Isso porque A Sapatona Galáctica se assemelha ao que há de melhor nas produções da Cartoon Network dos anos 90 (Meninas Super-Poderosas é uma lembrança quase que imediata), ao mesmo tempo em que sua velocidade de humor se assemelha a algo que poderia ter vindo da mente de David Zucker ou Jim Abrahams. Na verdade ela veio da mente e da escrita muito esperta de Emma Hough Hobbs & Leela Varghese, duas mulheres queer que se apropriam com muita inteligência de diversos códigos e estereótipos da cultura lésbica para criar sua sátira sobre a construção de relações entre pessoas LGBTIAPN+ e até como esses afetos são modulados e remodulados.
Ao mesmo tempo em que sabe, inevitavelmente, que grande parte do alcance da comédia se dará com o público queer, A Sapatona Galáctica passa por cima destas armadilhas de se limitar a um nicho de público e igualmente aposta em códigos e tiradas que também irão aproximar o público heterossexual do seu humor. Os “Maliens Brancos Heterossexuais” estão entre as maiores sacadas do filme, que brinca com muita acidez com muitas das características que este público busca ao se identificar com figuras ditas como normativas.
Se o filme é tão acertado na ambientação de seu humor, extremamente eficaz em deixar claro para o público sobre quais caminhos essa sátira irá seguir, a curta duração não permite que a ambientação sobre a própria Clitópolis seja sentida. O universo criado pelas mentes das diretoras mas parece um adorno sem muita personalidade, o que talvez deixe a impressão de que o roteiro está tão obcecado pelas piadas que se esquece de enriquecer o universo trabalhado, por mais que a atenção aos detalhes seja das mais impressionantes como todas as cores que inundam a tela. Ainda assim, Clitópolis mais parece um planeta qualquer do que uma parte do universo habitada unicamente por mulheres lésbicas.
Mas é de fazer rolar de rir como A Sapatona Galáctica se apropria e entende de todo um imaginário lésbicas para fazer da representatividade essa muleta de humor sem precisar diminuir ou ridicularizar estes estereótipos – fãs da Saga Crepúsculo, se preparem pra uma tirada IMPAGÁVEL do filme Lua Nova. É uma animação que ri ao seu modo sobre o meio do qual entende muito bem, e isso dá vida a um humor muito genuíno, espirituoso e até mesmo com camadas muito fáceis de serem reconhecidas pelos integrantes da nossa comunidade. Impossível terminar a sessão de A Sapatona Galáctica sem um grande sorriso no rosto.




