Todas as Estradas de Terra Têm Gosto de Sal (EUA, 2023)
Título Original: All Dirt Roads Taste of Salt
Direção: Raven Jackson
Roteiro: Ravel Jackson
Elenco principal: Kaylee Nicole Johnson, Chris Chalk, Jayah Henry, Sheila Atim, Preston McDowell e Charleen McClure
Duração: 92 minutos
A24 e Barry Jenkins se unem em melodrama esteticamente belo e narrativamente estéril.
Mackenzie, uma mulher negra do Mississippi, encontra nas cíclicas correntezas da vida uma forma de estar presente nas diversas fases de sua existência, da infância até a velhice. Nessas idas e vindas, ela aprende a tatear os afetos e desafetos que as ondas do tempo lhe trouxeram.

Escrever a sinopse de Todas as Estradas de Terra Tem Gosto de Sal é tão desafiador quanto assistir ao filme. A produção da A24 — estúdio conhecido por popularizar premissas cult entre os cinéfilos — apresenta um roteiro que se desdobra em um conjunto de cenas elípticas organizadas de forma não linear. A narrativa, assim, não cria uma completude sobre nada em específico. Ao mesmo tempo, se desenvolve de forma cíclica — e, por vezes, repetitiva — através dos distintos períodos da vida da protagonista.
Por trás da direção está Raven Jackson, estreante na categoria de longas-metragens e conhecida artisticamente por seu trabalho com fotografia e poesia. Essa combinação de talentos de Jackson se reflete no lirismo visual que permeia o filme. Há uma inquestionável riqueza no modo como a cineasta se atém aos planos detalhes carregados de simbologia e emblemas. Planos emblemáticos esses que dialogam com a alma de Mack, expondo parte do que não é verbalizado em figuras abstratas da natureza, como a chuva, a terra molhada e as árvores. O tom bucólico e visualmente texturizado se une a uma edição de som atenta aos ruídos ambientes e a uma trilha sonora minimalista, que se faz presente apenas nas cenas finais como um acabamento melodramático.
Falando em melodrama, é válido ressaltar que Barry Jenkins — renomado diretor responsável por Moonlight: Sob a Luz do Luar e Se a Rua Beale Falasse — assume o papel de produtor de Todas as Estradas de Terra Tem Gosto de Sal. Para os espectadores familiarizados com o estilo de Jenkins, é perceptível a sua influência criativa no longa. O uso dos silêncios emocionalmente esmagadores, a atmosfera melancólica das cenas e a câmera que acompanha os personagens sob ângulos mais obtusos, utilizando a meia-luz como um símbolo do amor dicotômico que sofre e se alegra em amar são alguns aspectos que que evidenciam sua marca na produção.
Mesmo com o nome de peso da A24 e Barry Jenkins e a estreia de Raven Jackson com uma direção tão delicada, ainda persiste uma ausência na concepção do filme. Há um vazio não preenchido que prevalece quando saímos da sala de cinema. Os noventa e sete minutos que acabamos de assistir se desfazem em lembranças soltas e desconexas devido a um enredo que não economiza apenas nas palavras, mas também na estrutura. Os corpos que se tocam com afeto — com um estranho enfoque nas mãos — parecem dormentes, não deixando nenhuma reflexão genuinamente profunda que possa nos acompanhar após os créditos finais.
Portanto, o gosto da seca estrada regada de sal que fica no paladar de Mack na cena final é a intensidade que falta na experiência cinematográfica oferecida ao público, que com tanta água corrente pela fluidez narrativa acaba com uma estéril sensação de lavagem de espírito.