Crítica | June e John

June e John (França, 2025)
Título Original: June and John
Direção: Luc Besson
Roteiro: Luc Besson
Elenco principal: Matilda Prince, Luke Stanton Eddy, Ryan Shoos, Dean Testerman, Sherry Mattson, Honey Lauren, Ayanna S. Flemings e Don Scribner
Duração: 92 minutos
Distribuição brasileira: Diamond Films

Apesar de ter algumas marcas características de seu trabalho, é sempre difícil saber o que esperar de um filme de Luc Besson – mas sabemos que não importa o que esperarmos, ele trará algo diferente de nossas expectativas.

A obra já se inicia com uma das cenas mais características de seu cinema: um personagem se jogando de um prédio. E então, adentramos uma realidade muito menos explorada na sua cinematografia, que é estranhamente realista e burocrática. Acompanhamos John (Luke Stanton) por um dia típico em sua vida, tendo que lidar com um chefe que odeia, colegas de trabalho medíocres e um encontro relâmpago que não dá certo. Em seguida, em uma sequência divertida e irritante, o vemos tendo o que poderia ser o pior dia da sua vida, do qual ele é salvo apenas por um elemento: ver June (Matilda Prince) no metrô e instantaneamente se apaixonar por ela.

O que passa a acontecer é um transe libertador no qual ambos conseguem ignorar a existência de toda uma vida para se entregar completamente ao amor, este sentimento tão nobre. Mas, ao contrário de ser piegas como isso poderia parecer em um primeiro momento, o diretor consegue brincar com as convenções de gênero o suficiente para que a experiência seja tão gratificante quanto divertida. Desde a brincadeira com o conceito de manic pixie dream girl dos anos 2000 até o homem completamente sem personalidade e que só aceita tudo que lhe é colocado na frente, tudo leva ao cenário das comédias românticas da virada do milênio que misturavam um clima independente com um machismo implícito que em revisão hoje, se torna escancarado. Então ele aproveita para escancarar esse elemento e criar algo fantasticamente divertido a partir disso.

Ainda que parta desse pressuposto de um roteiro interessante e que conte com ótimas atuações do casal principal, com a instabilidade emocional dela sendo compensada pela energia tranquila dele, existe um elemento técnico que chama atenção negativamente. Por uma questão da produção, que aconteceu durante a pandemia de Covid-19 e com baixo orçamento, houve a escolha estética de filmar com celulares. Hoje em dia, isso não é considerado inovador e existem métodos e aparelhos que podem dar a sensação de imagem muito semelhante às que se conseguem com câmeras profissionais. No entanto, este não é o caminho escolhido pela produção, resultando em uma imagem amadora – que não funciona nem como crítica, nem como forma estética. Considerando a preocupação com os elementos visuais da obra, como a escolha das locações, figurinos e objetos de arte, assim como o histórico do próprio diretor em criar mundos complexos para as telas, acabamos sendo lembrados pelos movimentos de câmera e qualidade de imagem que esta nova fábula apresentada é um filme, rompendo com a suspensão de descrença.

No entanto, o filme funciona muito bem alinhado ao seu princípio disruptivo de que são necessárias fortes emoções e sentimentos para que se possa viver melhor dentro de um sistema que nos aprisiona. Apesar de não estar sendo um filme muito bem recebido pela crítica, ele tem o potencial de futuramente se tornar um clássico cult que não foi muito bem compreendido em um primeiro momento.

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