Crítica | Juntos

Juntos (Austrália e Estados Unidos, 2025)
Título Original: Together
Direção: Michael Shanks
Roteiro: Michael Shanks
Elenco principal: Dave Franco, Alison Brie, Damon Herriman, Mia Morrissey, Jack Kenny, Karl Richmond e Francesca Waters
Duração: 1h42min (102 minutos)
Distribuição: Diamond Films

Talvez o ano 2025 seja o melhor em um bom tempo para se lançar um filme pautado no horror corporal (body horror), considerando a popularidade que A Substância (2024) conseguiu alcançar e até a sua visibilidade em grandes premiações.

É neste contexto que surge Juntos, filme independente lançado este ano no Festival de Sundance e que desde então tem ganhado visibilidade global. Em uma nova e excelente leva de obras que aprofundam traumas pessoais e questões de saúde mental através do cinema de gênero, ele traz a co-dependência de alguns casais para o extremo. Ele faz isso através de um estranho fenômeno que faz com que Millie (Alison Brie) e Tim (Dave Franco) acabem tendo problemas por estarem, literalmente, tendo seus corpos e sensações grudados de forma misteriosa.

Rapidamente se torna óbvio que, como em quase todo filme de terror, o artifício do medo é utilizado apenas para explorar de forma mais explícita visualmente um problema muito mais interno aos personagens. Entendemos que Tim largou mão de parte de sua vida para se mudar para uma pequena cidade com a esposa, que encontrou ali uma boa vaga de trabalho. Mais do que isso, ele também depende dela para a locomoção, e esses pequenos problemas conjugais parecem ir aumentando em uma bola de neve de ressentimentos.

A obra se mostra bastante consciente de suas escolhas tanto em questão de roteiro quanto de tom. Então, quando o longa cria a sua pausa narrativa no momento em que eles enfrentam uma situação tensa e precisam dormir em uma caverna sinistra, ele consegue quebrar as expectativas e criar um momento de comunicação entre o casal que esperamos desde o início do filme. Como ele mesmo sabe que parte de sua graça está em ter uma grande reviravolta, ele dá as pistas do que está para acontecer de maneira que não é muito óbvia. Mas, exatamente por ele ter toda essa preocupação com a sua construção, é difícil aceitar algumas questões simples como a não compreensão dos personagens de como funciona um relaxante muscular.

Ainda assim, é a química do casal na vida real que também interpreta o casal em cena que faz com que o público queira passar por toda essa jornada pavorosa com eles. Mesmo quando não estamos compreendendo exatamente o que está acontecendo, ficamos tensos pelas situações propostas e ainda mais à flor da pele por conta da aflição de cenas de horror corporal. Aqui, assim como em A Substância, a escalação do elenco é parte fundamental do sucesso da obra.

Mas, talvez por conta de um orçamento mais apertado e até a pressa para produção, a comparação com o outro longa é um tanto injusta, mas inevitável por conta do lançamento neste momento específico. Ainda assim, ele consegue utilizar as ferramentas que tem de maneira eficiente, e mesmo que perca na escala, ainda consegue criar imagens de horror memoráveis.

Por conta de sua estrutura firme, é complexo aceitar o seu final em um primeiro momento por ele parecer muito simplista. No entanto, pensando sobre a obra como um todo e olhando para essas pistas que são dadas, o filme cresce ao percebermos que estava tudo ali, bastava juntarmos as informações.

Serão poucas as pessoas que sairão das sessões sem passar por pelo menos um impulso de virar a cabeça para longe da tela, o que eu considero um bom sinal para um filme de horror. Considerando que este é apenas o primeiro longa do diretor, ficamos com a curiosidade para entender como ele lidará com projetos futuros.

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