Crítica | M3GAN 2.0

M3GAN 2.0 (EUA, 2025)

Título Original: M3GAN 2.0
Direção: Gerard Johnstone
Roteiro: Akela Cooper, Gerard Johnstone e James Wan
Elenco principal: Allison Williams, Jemaine Clement, Violet McGraw, Jenna Davis, Amie Donald, Ivanna Sakhno, Brian Jordan Alvarez e Aristotle Athari
Duração: 119 minutos
Distribuição: Universal Pictures

Existe uma dificuldade no cinema em permitir que os bons personagens morram. Então, mesmo com o ataque que supostamente teria detonado a androide M3GAN, é óbvio que ela iria retornar. Como o próprio trailer já diz, mais forte, mais rápida e… mais alta (?). E, com o mundo ameaçado por uma nova androide que seria usada com objetivos militares e que se rebela, indo atrás apenas dos próprios planos, a boa e velha M3GAN se torna necessária justamente por compreender a programação da colega.

Então, se existem desculpas até para reviver o Super-Homem após a sua morte, reviver um ser que é baseado em programações e que habita o imaginário da nuvem de dados é ainda mais fácil. Se compramos então esse roteiro absurdo, podemos seguir para aproveitar um filme que se desloca do horror para partir para a ação, e que consegue fazer isso de forma satisfatória. Nada de bonecas matando criancinhas ou cenas de suspense: o foco se torna claramente colocar a personagem em um papel de heroína de ação, com direito à descida de penhasco e melhorias realmente focadas em combater sua nêmese. Seguindo a forma dos thrillers de ação, e adicionando um pouco de humor autodepreciativo à narrativa, o filme que assistimos é um tanto divertido.

Essa mudança de tom é um tanto súbita e pode gerar bastante confusão em quem espera apenas ver mortes peculiares e sangue. Ainda que o filme tenha a sua dose de violência, aqui ele parece aceitar a sua restrição de idade melhor que o filme anterior, criando cenas de violência implícita de maneira muito mais eficiente, sem a sensação de que foi necessário cortar uma parte mais sangrenta da ação. Já no início do filme há uma decapitação que deixa claro esse tom de galhofa.

O que talvez se revele a questão mais problemática do filme é o seu discurso, e isso é algo igualmente importante quando pensamos no contexto no qual ele está sendo lançado. Em 2025 está acontecendo um movimento grande em relação ao uso de inteligências artificiais em diversas áreas, assim como quais serão as consequências de longo prazo delas. Aqui, a ideia não é soar alarmista ou tentar defender o seu uso, mas sim ressaltar que essa é uma discussão bastante ampla e que não deveria ser tratada de uma maneira simplista. É um assunto complexo que envolve consequências econômicas, no aprendizado e até no conceito do que é a arte. O que incomoda em um filme como esse é uma simplificação e pasteurização de todo esse discurso através dessas figuras que ficam aqui representadas como IA do mal e IA do bem, assim como uma excessiva humanização desses personagens.

Apesar dessas discussões pertinentes e que são frequentemente tratadas na ficção científica antes mesmo da possibilidade de criação de uma IA, aqui tudo é moldado para caber no molde de uma narrativa clássica, com suas reviravoltas, mas ainda assim um filme bem clássico de estúdio. É óbvio que ele diverte, que causa emoções, mas a sensação de que a obra tenta nos manipular como público é inevitável – ainda mais com um assunto tão pertinente no momento.

Assim, mesmo com piadinhas e um longa-metragem que provavelmente terá um sucesso comercial, é necessário pensar no quanto ele auxilia nessa criação de imagens que habitam o imaginário coletivo em discussões pertinentes para toda a sociedade. E, neste sentido, M3GAN acaba sendo mais prejudicial do que levantando as questões realmente importantes.

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