Milton Bituca Nascimento (Brasil, 2025)
Título Original: Milton Bituca Nascimento
Direção: Flávia Moraes
Roteiro: Marcelo Ferla e Flávia Moraes
Elenco principal: Milton Nascimento, Caetano Veloso, Simone, Gilberto Gil, Maria Gadu, Spike Lee e Quincy Jones
Duração: 119 minutos
Distribuição brasileira: Gullane
Quando pensamos em música brasileira, Milton Nascimento é uma das grandes referências. Suas canções ultrapassaram limites de língua e espaço geográfico, sendo muito importantes até para a difusão da música nacional dentro de palcos internacionais. É difícil pensar em um brasileiro que não tenha sido impactado pela notícia de sua participação nos Grammys de 2025, quando estava indicado junto a Esperanza Spalding e não recebeu um lugar à mesa, gerando indignação nacional. Ou seja, mesmo após a aposentadoria dos palcos e idade avançada, sua relevância segue sendo gigantesca.

Assim, infelizmente para o filme Milton Bituca Nascimento, é muito difícil não criar grandes expectativas em relação a um documentário criado em paralelo à sua turnê de despedida dos palcos. E, mesmo sabendo que as expectativas são criadas por nós mesmos e que este é um problema do espectador e não do filme que está sendo exibido, é difícil não acabar a exibição com uma sensação de que a obra poderia ter tirado melhor proveito de sua situação privilegiada de acesso ao artista e seus shows para criar uma experiência cinematográfica mais memorável.
O que nos é apresentado é um documentário bastante procedural, cheio de depoimentos de pessoas famosas – e muitas vezes estadunidenses – apresentados de maneira bastante formal, quase jornalística. Isso é mesclado com algumas cenas dos palcos e um pouco de sua vida pessoal, mas a obra parece não ter nenhum compromisso com uma linha do tempo específica ou alguma lógica de montagem. Ainda que vejamos belíssimos materiais, eles parecem difusos e confusos em sua apresentação.
Então, mesmo com a lista invejável de pessoas que estão prestando depoimentos quanto ao legado de Milton Nascimento, essas falas acabam se tornando mais um reforço de sua grandiosidade, quando esta já é conhecida pelo público. Não temos momentos de maior vulnerabilidade do documentado, assim como há pouquíssimo dele mesmo falando. Cria-se quase que uma homenagem à sua brilhante carreira, mas sem escutar o que o mesmo tem a falar dela. Mesmo com momentos memoráveis dos artistas brasileiros e internacionais falando sobre suas intersecções e colaborações, a narrativa parece mais um monólogo do que um diálogo. Isso é reafirmado com a narração de Fernanda Montenegro, que apesar de extremamente poética, parece um pouco deslocada do contexto do documentário focado em sua última turnê. Até a relação entre a atriz e o cantor é pouco clara, o que, novamente, aponta para um desperdício do talento apresentado em tela.
Sem oferecer nem muita informação nem muita emoção, o longa-metragem acaba perdendo parte do encanto da possibilidade de fazer um retrato do artista e de suas emoções passadas em 60 anos de carreira. E, considerando todas as mudanças que o Brasil e o próprio cantor tiveram em 60 anos, isso poderia trazer uma infinidade de histórias, memórias e conexão que ficam completamente ausentes.
Muito mais plástico e formal do que emocionante, é difícil discernir entre sentimentos e não se sentir decepcionado. Mas a análise mais fria do filme mostra que há razões para se sentir assim.