O Brutalista (EUA, Reino Unido e Hungria, 2024)
Título Original: The Brutalist
Direção: Brady Corbet
Roteiro: Brady Corbet e Mona Fastvold
Elenco principal: Adrien Brody, Felicity Jones, Guy Pearce, Joe Alwyn, Raffey Cassidy, Stacy Martin, Isaach de Bakolé e Alessandro Nivola
Duração: 215 minutos
Distribuição brasileira: Universal Pictures
Dentre os filmes lançados no Festival de Veneza, O Brutalista talvez seja a obra mais aguardada dentro dos círculos cinéfilos. Com exibições esgotadas no TIFF, NYFF e agora na Mostra, a obra no mínimo causa bastante curiosidade por conta de sua estrutura épica pensada dentro de um orçamento moderado para os padrões estadunidenses.

A história épica contada trata da vida de um personagem ficticio, László Tóth (Adrien Brody), um arquiteto famoso em Budapeste durante a Segunda Guerra Mundial e que acaba conseguindo migrar para os Estados Unidos na fuga do nazismo. Lá, ele passa a viver com um primo e trabalhar na construção de móveis, até que é descoberto por um magnata, o sr. Harrison Lee Van Buren, ao reformar uma biblioteca e sala de estudos em sua casa. Então, após muitos acertos e desacertos, ele passa a fazer uma gigantesca obra de um centro comunitário em homenagem à mãe do sr. Van Buren.
É óbvio que essa sinopse é uma simplificação absurda do enredo da obra de mais de três horas, pensada de maneira a não estragar os pormenores que o filme apresenta. O que é importante é compreender que o filme está tratando de uma desconstrução do imaginário dos EUA como a terra de oportunidades e onde todas as pessoas podem ser iguais. Desde o péssimo tratamento dado aos imigrantes que chegam de barco até o racismo com um de seus melhores amigos que se arrasta até o final da obra, o filme traz uma espiral da loucura do personagem que é obrigado a sair de sua própria terra. Com detalhes sórdidos como o vício em heroína que se inicia por conta das dores físicas até os requintes de crueldade da xenofobia que tenta se disfarçar como amigável, o filme passa rapidamente do épico ao trágico, falando de maneira bastante crua sobre as condições de vida e de trabalho das pessoas que conseguiram sobreviver ao nazismo europeu.
O elemento mais essencial dessa obra é sua estética. Com uma fotografia toda pensada em vistavision, tecnologia dos anos 1950, é perceptível o quanto todos os planos foram pensados para emular o brutalismo e suas contradições de um minimalismo que visa construções gigantescas. Com muitos planos subjetivos que emulam a vista de László em diversos momentos de suas travessias, recebemos uma Estátua da Liberdade de ponta cabeça e estradas passando rapidamente fora do carro. Ao mesmo tempo, enxergamos o tamanho da obra que está sendo feita e muitos planos que valorizam os materiais como concreto, aço e madeira, mostrando a sua importância para o movimento arquitetônico. Isso se mistura a uma grandiosa trilha sonora e desenho de som, que por vezes até se misturam e criam um plano de fundo realmente estranho aos ouvidos, mas que faz sentido para esse homem que vive em uma terra que não fala nem a sua língua natal.
A isso tudo, são somadas ótimas atuações e elementos da direção de arte que funcionam perfeitamente e conseguem se atualizar dada a duração da história em tela, indo dos anos 1950 até 1980. Detalhes como o colar de Erzsébet (Felicity Jones) que é utilizado na cena final por sua sobrinha Zsófia (Raffey Cassidy) dão a sensação de uma história extremamente crível, tanto que ao final fica-se na dúvida se a obra é baseada em fatos reais.
Apesar do claro pensamento sobre o que está sendo apresentado, foi compartilhada uma sensação final de um filme que esquece sua mensagem. Sua história é grandiosa demais para tratar de apenas um estudo de personagem, ao mesmo tempo em que a mensagem sobre a falta de lugar para os judeus ao final da Segunda Guerra já foi abordada de maneiras mais intimistas pelo cinema. A obra fica então nessa espécie de limbo existencial, mesmo que exista uma estética incrível que crie uma obra tão pomposa.
É interessante assistir a um filme tão longo em um tempo de vídeos curtíssimos na internet – e seu ritmo de montagem é surpreendente, com as três horas passando como mágica. No entanto, parece se perder uma ótima oportunidade de criar ainda mais impacto através da obra, o que provavelmente vai se reverter em uma temporada de diversas premiações técnicas.