Crítica | Nada

Nada (Brasil, 2025)
Título Original: Nada
Direção: Adriano Guimarães
Roteiro: Emanuel Aragão
Elenco principal: Bel Kowarick, Denise Stutz, Thais Puello
Duração: 92 min
Distribuição: Embaúba Filmes

Nada é um filme que se sabe vazio, e que encontra força justamente nesse vazio. É com plena consciência de seu ritmo quase rarefeito, de suas lacunas narrativas e de sua melancolia quase paralisante que Adriano Guimarães conduz a história de Ana (Bel Kowarick) de volta à fazenda onde cresceu, forçada pelo adoecimento da irmã Tereza (Denise Stutz). Não há aqui qualquer tentativa de disfarçar o que o filme quer ser: um mergulho na quietude e no estranhamento, onde cada silêncio e cada imagem tem um peso que vai além da superfície.

O filme se ancora na ausência: de som, de pessoas, de respostas. O vazio passa a ser o grande motor dramático, e Guimarães demonstra absoluto domínio ao construir essa atmosfera onde tudo é lento, contemplativo e, ao mesmo tempo, impregnado por algo quase onírico. O surgimento de uma misteriosa antena na fazenda serve menos como elemento de suspense e mais como catalisador para distorcer memórias, fragilizar certezas e romper a já frágil percepção de realidade das personagens.

É notável como Nada utiliza seu cenário bucólico não como um simples fundo bonito, mas como parte viva da narrativa. Campos abertos, cômodos amplos e estranhamente silenciosos: todos são espaços que ecoam o distanciamento afetivo entre as irmãs e a solidão latente de quem volta ao passado sem saber exatamente o que procura. A ausência de diálogos longos ou explicações diretas faz com que cada gesto, cada olhar carregue um subtexto profundo, quase sufocante.

Ao mesmo tempo, Guimarães entende que esse vazio não é estático. Ele vibra, incomoda, e às vezes até conforta. É um vazio que fala. Se em outros filmes o silêncio poderia ser sintoma de hesitação, aqui ele é escolha narrativa clara: abraçar a melancolia, a lentidão, o estranhamento e, principalmente, a lembrança. Há momentos em que essa escolha beira o sufocante, sim, mas sempre coerente com a proposta: confrontar o espectador com o nada, e fazê-lo perceber que nem sempre o nada é ausência; às vezes, é memória bruta.E assim, Nada acaba por se tornar uma experiência mais sensorial que propriamente dramática. Um filme que acredita na força da imagem, nas paisagens, nas sombras, no olhar ausente de Ana para falar do que não é dito. Um vazio que ora parece um abraço, ora se torna abismo. E mesmo que deixe a desejar em respostas, permanece fascinante por ter coragem de permanecer fiel àquilo que realmente é: a beleza

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