Quarteto Fantástico (Alemanha, Estados Unidos, Canadá, 2005)
Título Original: Fantastic Four
Direção: Tim Story
Roteiro: Michael France e Mark Frost (baseado nos personagens criados por Stan Lee e Jack Kirby)
Elenco principal: Ioan Gruffudd, Jessica Alba, Chris Evans, Michael Chiklis, Julian McMahon e Kerry Washington
Duração: 106 minutos
Talvez o mais surpreendente em Quarteto Fantástico (2005) não seja o fato de ser um filme ruim, mas o quanto ele expõe a própria indústria que o engendrou. Há algo quase cínico em perceber como a 20th Century Fox, ciente da fragilidade do roteiro, da condução frouxa e das atuações hesitantes, tentou compensar tudo isso com humor diluído, efeitos visuais medianos e uma avalanche de produtos licenciados. É uma tentativa desesperada de mascarar a ausência de substância por meio de uma embalagem que grita “diversão”, mas que, no fim, parece vazia.

O que mais chama atenção é o contraste entre aquilo que o filme parece querer ser e aquilo que de fato é. Há, no fundo, um desejo claro de transformar personagens com décadas de história editorial em ícones pop modernos, acessíveis, “radicais” e isso fica evidente no tratamento de Johnny Storm, moldado como garoto-propaganda de uma geração que consome imagem e superficialidade com voracidade. É uma escolha que revela, mais do que tudo, o receio de apresentar personagens complexos ou situações que exigem do espectador algo além do riso fácil.
E é justamente aí que o filme tropeça de forma fatal. A narrativa parece montada como um mosaico de situações que, isoladamente, até poderiam divertir, mas que não têm coesão. Sequências como a do Coisa impedindo um suicídio ou a Mulher Invisível passando por seguranças existem quase como esquetes, sem consequência real dentro da trama. E a cena da ponte, que deveria ser um clímax dramático, não passa de um espetáculo confuso que termina sem resolver suas próprias perguntas.
Talvez o maior problema esteja mesmo na lógica interna do roteiro, que constantemente implode sob o peso de suas contradições. Se Reed Richards sabia recriar a tempestade que deu origem aos poderes do grupo, por que precisaram ir ao espaço em primeiro lugar? Se Ben Grimm podia alternar entre humano e monstruoso, por que ele decide permanecer como o Coisa? Por que Victor Von Doom, que surge como empresário vaidoso, acaba se transformando numa caricatura de vilão de desenho animado? São perguntas que nem o filme, nem sua montagem apressada, se dispõem a responder.
Essa falta de organicidade atinge até mesmo o elenco. Ioan Gruffudd nunca consegue dar ao Senhor Fantástico a serenidade e a inteligência que o personagem demanda; Jessica Alba, apesar de carisma e beleza, é sacrificada por falas rasas e situações constrangedoras; e Julian McMahon transforma o Doutor Destino num vilão de comercial de aço inoxidável, sem qualquer profundidade. Chris Evans, ainda longe de encarnar o carisma de um futuro Capitão América, se sai melhor, mas apenas por abraçar o lado cínico do roteiro. Apenas Michael Chiklis, como o Coisa, consegue trazer alguma verdade ao personagem graças, principalmente, a uma maquiagem bem resolvida e a uma entrega que foge do automático.
No fim, Quarteto Fantástico é a materialização de uma era do cinema de super-heróis que ainda não sabia muito bem como equilibrar espetáculo, narrativa e respeito pelos personagens. Um produto que tenta disfarçar suas falhas com piadas e pirotecnia, mas que termina revelando exatamente o que é: um filme sem convicção, sem urgência e, acima de tudo, sem identidade. É curioso que Brad Bird, ao ser questionado sobre as semelhanças com Os Incríveis, tenha dito para esperarmos e decidirmos qual filme seria melhor. Porque, revendo ambos hoje, fica evidente que nem sempre basta ter poderes extraordinários quando falta, sobretudo, a coragem de contar uma boa história.