Sob a Areia (França, 2000)
Título Original: Sous le Sable
Direção: François Ozon
Roteiro: François Ozon, Emmanuèle Bernheim
Elenco: Charlotte Rampling, Bruno Cremer, Alexandra Stewart
Duração: 95 minutos
Disponível em: Mubi
Sob a Areia é um belo e introspectivo filme sobre a negação do luto.
Marie (Charlotte Rampling) e Jean (Bruno Cremer) estão casados há tanto tempo que o silêncio entre os dois já é algo confortável. Todas as suas interações são práticas e breves, naturais de uma relação sólida e estável. De férias no litoral francês, Jean vai dar um mergulho enquanto Marie descansa sob a areia da praia. Depois de um bom tempo, ela sente sua falta e sai à sua procura na praia vazia.
O desespero da personagem ao perceber que seu marido desapareceu é contido, sóbrio. Mas está lá, refletido nos seus olhos azuis, que encaram a imensidão do mar sem sinal de Jean. Esperamos que ela surte a qualquer momento, mas o que vemos é uma angústia que se arrasta ao longo da trama.
As cores na tela são neutras, mas sublimes, assim como a atuação de Rampling, que com seu charme e elegância tenta esconder o peso da perda, as dúvidas sobre as circunstâncias do sumiço e a esperança de encontrar o marido. Ela até tenta seguir em frente, seja dando suas aulas ou iniciando um caso com um novo homem, mas apesar dos altos e baixos o luto é sempre constante.
O ritmo lento é uma escolha do diretor François Ozon para representar principalmente a primeira das quatro fases do luto — a negação. O elemento da água volta e meia reaparece para ilustrar como ela está imersa na própria dor, se recusando a aceitar a realidade.
A situação é particularmente atormentadora pela maneira como Jean desapareceu. Sem evidências do corpo, ele continua vivo em espírito — na forma de um fantasma na imaginação de Marie. Embora não seja um recurso inédito, a aparição do marido surpreende pela mudança sutil no estilo. Até então, o filme mantinha um tom realista e contido; agora mergulha em uma atmosfera de realismo mágico, onde fatos e imaginação se confundem. Essa transição nos faz mergulhar no estado psicológico de Marie, experienciando sua confusão mental e emocional. A trilha sonora contribui criando um tom sofisticado e inquietante que, combinado às visões da protagonista, lança dúvidas sobre a natureza do relacionamento do casal e sobre a possibilidade de Jean ter escolhido desaparecer por algum motivo desconhecido.
Todas as incertezas internalizadas de Marie vêm à tona pelo interrogatório da polícia e em uma interação perturbadora com sua sogra. A cena final pode ser frustrante para alguns espectadores, mas representa bem a ânsia e o sofrimento desolador diante de algo que nunca mais vai voltar a ser como era.