Crítica | Superman

 Superman (EUA, 2025)

Título Original: Superman
Direção: James Gunn
Roteiro: Jerry Siegel, Joe Shuster e James Gunn
Elenco principal: David Corenswet, Rachel Brosnahan, Nicholas Hoult, María Gabriela de Faría, Skyler Gisondo, Edi Gathegi, Isabela Merced, Nathan Fillion e Anthony Carrigan
Duração: 129 minutos
Distribuição: Warner Bros

Super-Homem voa em busca de uma humanidade perdida.

Ao interferir em um conflito internacional para proteger civis, os interesses e a origem do Super-Homem são questionadas em uma campanha de desinformação e de caça aos meta-humanos. Se soa familiar, é porque o filme do diretor James Gunn (Guardiões da Galáxia) ressoa o cenário geopolítico atual, fazendo comentários políticos e sociais pertinentes aos nossos tempos.

Lex Luthor (Nicholas Hoult) é um magnata caricato e invejoso que vê na popularidade do Superman (David Corenswet) uma ameaça aos seus interesses de dominação. Para destruir a imagem do herói, ele tenta moldar a opinião pública, revelando segredos sobre a sua herança kryptoniana.

Ao tentar proteger a humanidade, o antes idolatrado Superman agora  é taxado de traidor do povo norte-americano – mostrando que nem o homem mais poderoso do planeta está ileso à máquina de desinformação e ao cancelamento.

As meias verdades, divulgadas pelo antagonista e repercutidas pela mídia, lançam dúvidas e inseguranças sobre sua própria identidade. Em uma entrevista à Lois Lane (Rachel Brosnahan) – provavelmente uma das cenas mais interessantes do longa –, esses conflitos internos são expostos, colocando em xeque tanto o relacionamento com a jornalista quanto seus valores pessoais.

As diferenças entre Lois e Clark criam uma dinâmica instigante – ele agindo por impulso na inocência de “salvar o mundo” e ela mais racional, questionando as consequências de atos heróicos impensados. A personagem de Rachel Brosnahan ganha destaque ao fazer um contrapeso, trazendo Clark para a realidade dos fatos. A interação por meio de entrevista inclusive evoca a famosa cena do filme original de 1978, o que deve agradar os fãs.

Mas não é só isso que lembra o primeiro filme: um Super-Homem mais solar, alegre e íntegro volta às telas no mundo da pós-verdade em que bondade e justiça soam como valores antiquados. A atuação de David Corenswet acerta em representar um personagem com grande força, mas ingênuo, imaturo emocionalmente e que precisa aprender a lidar com sua vulnerabilidade.

Já na cena de abertura, o personagem aparece derrotado na neve. O que também indica que o diretor escolheu pular a explicação do passado, partindo do pressuposto que o espectador já conhece as origens do personagem. Afinal, essa é uma produção dedicada aos fãs do universo, voltando às origens, com um conteúdo autorreferencial e personagens coadjuvantes icônicos dos quadrinhos – como Lanterna Verde, Mulher Gavião e Sr. Incrível –, para ajudar o protagonista superar os inúmeros desafios criados pelo vilão.

Os valores da família, amizade e confiança nas pessoas são restaurados entre explosões fantásticas, transições mirabolantes e menções breves a conceitos complicados de ficção científica e política internacional. Em alguns momentos fica difícil conectar todos os pontos e algumas linhas narrativas não convencem muito – como o arco do jornalista Jimmy Olsen (Skyler Gisondo) com Eve Teschmacher (Sara Sampaio). O roteiro parece reconhecer o fato quando a própria Lois faz um comentário cético sobre a relação.

Um grande acerto, no entanto, é o uso do cachorro Krypto como alívio cômico, que cria uma identificação instantânea com o público. Além dos momentos com pet, o roteiro aposta em humor leve e quase infantil em diversas partes.

Esteticamente, Superman é impecável. A direção de arte, os efeitos visuais, sonorização, a trilha sonora clássica: está tudo ali e muito bem feito para garantir o entretenimento dos fãs de ação. Para outras, o exagero de explosões e prédios caindo faz perder um pouco do encanto e impacto inicial da grandiosidade da produção. É o famoso “ficou tão bom que é difícil acreditar”.

Outro ponto difícil de acreditar é na cobertura jornalística, que parece um tanto defasada. Não fosse pelos celulares nas mãos das pessoas, com personagens exagerando nas selfies e na cena dos macacos robôs espalhando notícias falsas na prisão criada por Lex Luthor, daria para dizer que é uma obra do início dos anos 2000.

Por outro lado, um comentário pertinente está no avanço da tecnologia e no debate sobre a Inteligência Artificial. Os inúmeros monstros criados pelo vilão são automatizados, controlados por ele como em um videogame e não têm sentimentos, superando qualquer esforço humano.

O diretor acena ainda para a questão da imigração, debatida no contexto da guerra mas também na origem de Kal-El. Se ele veio de outro planeta, pode ser considerado norte-americano? A jornada do Super Homem tendo que se reencontrar nos valores ensinados pela família humana (e não no seu legado de Krypton) e lutar contra uma imagem projetada por Lex Luthor é um ponto positivo na história.

No entanto, todas essas discussões importantes são diluídas na subtrama, deixando o público atônito com tanta informação em diálogos verborrágicos e um tanto bregas. O filme termina por nos anestesiar desses assuntos com sequências explosivas, típicas de uma obra de ação, em que tudo desmorona e nos faz focar no que é mais imediato: salvar inocentes.

Saí da sessão refletindo sobre a fascinação que as histórias de super-herói ainda causam, afinal retratar alguém perfeito, um salvador da pátria com a moral intacta não faz mais parte do imaginário cultural – o interesse maior parece estar em anti-heróis. Porém, talvez seja justamente aí que o filme renova a figura do Superman em um mundo cínico: um herói que ressalta sua humanidade com inseguranças e falhas, descobrindo que sua maior força está na vulnerabilidade.

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