Crítica | Superman: O Filme

Superman: O Filme (Estados Unidos, Reino Unido, Suíça, Panamá, 1978)

Título Original: Superman: The Movie
Direção: Richard Donner
Roteiro: Mario Puzo baseado nos personagens de Joe Shuster e Jerry Siegel
Elenco principal: Christopher Reeve, Marlon Brando, Gene Hackman, Margot Kidder, Ned Beatty, Jackie Cooper, Glenn Ford, Phyllis Thaxter e Valerie Perrine
Duração: 143 minutos
Disponível em: HBO Max

Existe algo de absolutamente milagroso em Superman: O Filme, essa primeira incursão cinematográfica em grande escala do maior herói das HQs. E o que mais impressiona é que o milagre não se manifesta nos efeitos especiais (ainda que muitos deles desafiem a lógica do tempo), mas no olhar. Na crença. Na entrega total de todos os envolvidos à proposta de apresentar o super-homem como símbolo de esperança e humanidade não como força bruta ou vigilância, mas como maravilhamento e empatia.

Richard Donner, vindo de uma tradição hollywoodiana clássica, comanda a narrativa como quem compreende profundamente os códigos do épico e da comédia screwball. É através desse amálgama que o filme encontra seu coração. Donner filma como se fosse Howard Hawks dirigindo Star Wars, ou como se John Ford tivesse se rendido aos quadrinhos. E talvez tenha mesmo se rendido, porque poucas vezes um épico foi tão atento aos seus personagens – ao humor leve, ao romance desenhado com carinho, ao tempo dedicado para que o voo, quando vier, realmente aconteça com todo seu peso simbólico.

O trabalho de Christopher Reeve é assombroso. Em seu primeiro papel no cinema, ele constrói dois personagens com precisão microscópica: o desajeitado Clark Kent e o altivo Superman. E faz isso sem caricatura. Seu Clark carrega traços de um Cary Grant desastrado, daqueles que sabem rir de si mesmos, mas nunca perdem a dignidade. Seu Superman é o oposto disso: é a gravidade pura, quase uma força da natureza em forma humana. Reeve entendeu que o truque não estava em ser forte, mas em ser bom.

Margot Kidder, por sua vez, não interpreta Lois Lane, ela é Lois Lane. Com a intensidade, o brilho nos olhos e o sarcasmo afiado de uma Audrey Hepburn de calças largas e máquina de escrever. A química entre ela e Reeve sustenta os momentos mais delicados do filme, e é impossível não se render ao encanto quase silencioso da cena do primeiro voo. Nada de pirotecnia verbal, só imagens, olhares e a trilha sonora de John Williams conduzindo a experiência com a solenidade de um balé.

Geoffrey Unsworth, diretor de fotografia que viria a falecer no mesmo ano do lançamento, filma tudo como quem entalha madeira. Cada quadro tem propósito, composição e textura. É um filme que acredita nas imagens tanto quanto em sua dramaturgia. Existe uma confiança radical na força do visual, não como enfeite, mas como parte central da narrativa.

E há ainda o roteiro de Mario Puzo, com seu verniz quase shakespeariano, que encontra no mito de Krypton e na ética do herói uma linguagem solene e mítica. A estrutura se organiza como uma jornada heroica que transita com fluidez entre o sci-fi, o romance, o faroeste, a comédia romântica e o puro conto de fadas. Porque Superman não é apenas sobre um homem que voa, é sobre o porquê queremos acreditar que ele pode voar.

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