Terremoto em Lisboa (Portugal, 2025)
Título Original: Terremoto em Lisboa
Direção: Rita Nunes
Roteiro: Rita Nunes e João Cândido Zacharias
Elenco principal: Sara Barros, Miguel Nunes, Ivo Alexandre, Flávia Gusmão, Daniel Viana, Madalena Almeida, Custódia Gallego e Inês Vaz
Duração: 74 minutos
Distribuição brasileira: Filmes do Estação
Terremoto em Lisboa parte dos filmes de desastre para contar uma história que, ao mesmo tempo em que abraça seus clichês de gênero, muda seu foco principal para os momentos que antecedem o desastre. Aproveita de seu orçamento modesto para focar na política e moralidade científica que acontece no plano de fundo da ação, ao invés de fetiches de destruição em grande escala.

No ano de 2027, um grupo de cientistas em uma empresa de sismologia descobre leituras estranhas vindas de uma de suas máquinas. Ao investigarem o caso, percebem uma grande similaridade com os dados de terremotos de grande escala que aconteceram em outros países, também associando-os à memória de um terremoto que assolou Portugal em 1755. A partir disso, começam preparativos e discussões morais a respeito de informar ou não a população. Arriscar suas carreiras com um possível falso alarme, ou tentar salvar vidas, presumindo que as leituras indicam a vinda do terremoto.
Esse projeto demonstra uma autoconsciência do gênero em que está buscando suas maiores referências, os de filmes de desastre, utilizando suas convenções com bom humor para trazer questões temáticas interessantes e modernas, como brincar com a seriedade de toda a situação. Abraçando o clichê da burocratização política, que ignora a ciência e a prevenção de desastres por “não encaixar no orçamento”, ou as questões ambientais, que ao mesmo tempo em que são utilizadas como marketing político, são ignoradas pelos mesmos.
Com seu foco nos diálogos e os embates sobre ética científica e política da situação de pré-desastre, o filme cria sua encenação a partir de pontos de vista diferentes entrando em conflito. Um conflito que não pode ser debatido eternamente, com o possível terremoto em contagem regressiva, adicionando suspense e urgência à própria narrativa e seus personagens. Utiliza-se de uma forma clássica de decupagem, com o foco em primeiros planos e na utilização de campo e contra-campo, com um ritmo mais acelerado, deixando os seus atores, e sua atuação mais imediatista, para criar o ritmo da narrativa. Com a ajuda da trilha sonora de suspense, até um pouco inchada, para criar o clima. Seu bom humor ajuda a aliviar a seriedade da discussão filosófica e cria momentos de uma auto consciência irônica com o próprio material. Como um personagem que, depois de falar uma frase de efeito, acende um cigarro dentro de um ambiente fechado e é reprimido pelo seu colega.
Filma sua narrativa de dilemas morais de uma forma simples e direta, mas tirando sarro dessa super seriedade da situação para criar uma história divertida de se acompanhar, mesmo que também esteja trazendo questões modernas e atuais para sua pauta. Não faz delas o seu foco, com a criação de suspense e do desastre iminente sendo o coração do filme. E dentro dessa simplicidade e uma ironia autoconsciente meio camp, o filme nos diverte.