Crítica | The Alto Knights – Máfia e Poder

The Alto Knights – Máfia e Poder (EUA, 2025)

Título Original: The Alto Knights
Direção: Barry Levinson
Roteiro: Nicholas Pileggi
Elenco principal: Robert De Niro, Debra Messing, Katherine Narducci, Cosmo Jarvis, Michael Rispoli, Matt Servitto e Louis Mustillo
Duração: 123 minutos
Distribuição brasileira: Warner Bros

Martin Scorsese deu nome e sobrenome quando o assunto é filme de máfia. Embora não seja o único diretor a se destacar nesse subgênero, seu trabalho é um dos mais reconhecidos ao olharmos o histórico, ao lado da trilogia O Poderoso Chefão de Francis Ford Coppola. E se tem duas coisas que ambos os diretores fizeram foi atrelar grandes histórias de mafiosos ao nome de Robert De Niro, figurinha carimbada no trabalho desses realizadores, inclusive estrelando em O Irlandês – de Scorsese – há alguns anos, que olha para o legado – tanto do ator quanto do diretor – com olhos de nostalgia e contemplação.

Todos esses nomes de diretores e de filmes servem para deixar claro como De Niro carrega consigo uma espécie de status dentro do cinema de máfia, no qual o diretor Barry Levinson se aventura com Alto Knights: Máfia e Poder (The Alto Knights). Para conquistar certa empolgação, Levinson traz De Niro para interpretar logo dois personagens, com personalidades que parecem uma versão diluída de atuações anteriores do ator – o que por si só, já diz muito a respeito do próprio filme. Em uma comparação rasa – e injusta, claro –, Alto Knights soa como um O Irlandês sem toda a pompa de uma direção como a de Scorsese.

Narrando fatos ocorridos na década de 1950, o roteiro escrito por Nicholas Pileggi (responsável pelo texto de Os Bons Companheiros e Cassino, filmes dirigidos por – acertou! – Martin Scorsese) nos leva para os bastidores do mundo da máfia, em um tipo de “guerra fria” entre os antigos amigos Frank Costello e Vito Genovese, que são vividos por De Niro. Somos inseridos aos poucos na história, guiados pela narração do De Niro Costello que atribui um tom melancólico a tudo. O protagonista explica sua relação com Genovese, contextos sobre a máfia e a política da época – e como tudo se entrelaça –, faz piada aqui e ali e deixa claro sua vontade de sair desse mundo. Já Genovese surge em tela sob uma atmosfera diferente, mais violenta e caótica, sempre acompanhado de um trabalho de fotografia voltado para realçar seu aspecto mais sombrio em comparação ao protagonista.

Ainda assim, parece que De Niro está preso a uma atuação automática que nunca vai muito além da proposta inicial. O ator é auxiliado por próteses que ajudam a diferenciar os dois personagens, mas cria uma certa distração: caso o espectador já não souber do elenco, é capaz de ficar o tempo todo se perguntando se o ator está vivendo os dois papeis ou não. Fora isso, não há muitas nuances para diferenciar cada um, resultando até em algo mais caricato, principalmente a interpretação de Vito Genovese, que parece um papel pensado para Joe Pesci, companheiro tradicional de De Niro em filmes de máfia, alguns já citados aqui, inclusive.

Qualquer dinâmica que poderia ser criada pelo De Niro em dose dupla acaba desperdiçada por Levinson em uma narrativa protocolar que nunca parece engajar mesmo diante de uma história interessante. O diretor acaba recorrendo à muletas narrativas para tornar tudo mais fácil de contar, como o uso do voice over e de títulos que flertam com a ideia de separar a história em “capítulos”, mas nada disso se traduz em algo mais envolvente, sendo até um tanto cansativo de acompanhar. Como se Levinson capturasse o tédio de Frank Costello sente à essa altura da vida e imbuísse Alto Knights com essa mesma energia, o que – sem surpresas – não funciona bem, extrapolando ao ponto de fazer com que paremos de nos importar com a história que está sendo contada.

Até mesmo o próprio Alto Knights, bar que dá título ao filme, permanece em um patamar secundário dentro da narrativa, que talvez só sobreviva mesmo de uma nostalgia carregada por De Niro, como um easter-egg ambulante subvalorizado. O mesmo acontece com alguns tópicos levantados nos extensos diálogos – que implicam sobre imigração, política, criminalidade e trata da queda da própria máfia – e que nunca ganham a devida atenção, soando como notas de rodapé em um filme sobre uma rivalidade que nunca ganha corpo, se bastando aos acontecimentos dos primeiros minutos da obra. O resultado soa datado e sofre com a sombra de uma Hollywood que já foi mais interessante para filmes do gênero, não por glorificar mafiosos, mas por saber contar suas histórias com uma pompa que faz falta aqui.

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