Crítica | TIFF | Herege

Herege (EUA, 2024)

Título Original: Heretic

Direção: Scott Beck e Bryan Woods

Roteiro: Scott Beck e Bryan Woods

Elenco principal: Hugh Grant, Sophie Tucker, Chloe East, Elle Young, Julie Lynn Mortensen e Wendy Gorling

Duração: 110 minutos

Aviso: esta crítica contém pequenos spoilers sobre o enredo do filme, ainda que não fale especificamente sobre seu final.

Assim como os brasileiros falam sobre a visita de testemunhas de Jeová batendo à sua porta, os norte-americanos têm o seu equivalente, chamados mórmons. Eles são uma sub vertente cristã que também tem o hábito de doutrinação religiosa, e nesta obra acompanhamos duas jovens, Irmã Barnes (Sophie Tatcher) e Irmã Paxton (Chloe East), enquanto elas vão à casa de um homem, Sr. Reed (Hugh Grant), para falar sobre a palavra de Joseph Smith, idealizador da religião.

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Como este é um filme de terror, é óbvio que isso não acontece de maneira tranquila. Rapidamente percebemos que as intenções do Sr. Reed não eram tão puras quanto inicialmente se poderia pensar, e as garotas na verdade estão presas em uma espécie de armadilha feita para testar sua fé. Então, entre os desafios mentais e físicos impostos pelo vilanesco Sr. Reed, elas precisam encontrar uma maneira de sobreviver.

Criando ótimos momentos de tensão em uma trama inesperada, o filme parece mergulhar em aulas de roteiro para criar a sua própria narrativa. Uso de elementos clássicos como a ideia de um monomito de Joseph Campbell sendo aplicados, ou a situação de dar pistas narrativas e depois recompensas para os espectadores capazes de decifrá-las trazem à tona uma aproximação de uma estrutura clássica. E realmente acaba sendo um filme com bastante reviravolta, mas que continua voltando para um centro de gravidade principal, que é a relação entre o homem e as garotas.

É interessante que a obra procura se atualizar no comportamento da juventude, não tentando tratar as duas meninas de maneira completamente ingênua, apesar de suas restrições religiosas. Principalmente Barnes mostra uma boa leitura do mundo ao seu redor, e isso acaba alterando uma dinâmica que poderia ser muito desproporcional. Isso adiciona mais camadas ao filme.

A obra também demonstra um alto controle estético de como auxiliar a narrativa, com o uso da equipe de arte e da direção de fotografia para criar a ambientação necessária. Na arte, por exemplo, podem ser citados elementos essenciais como as miniaturas utilizadas no filme e no pôster, que criam o elemento de apelo estético essencial como a a24 adora fazer. Mas nesse mesmo sentido, poderiam ser citados outros elementos como o figurino, a vela utilizada e até mesmo o jogo Monopoly, que não será visto novamente com os mesmos olhos.

O mesmo acontece com a fotografia, que brinca com a ideia de utilizar ângulos em plongée e contra plongée para dar novos tamanhos aos personagens em tela, indicando uma dinâmica que dialoga com a obra na medida em que o Sr. Reed se torna cada vez mais tirânico. Com isso, aumenta-se a sensação do filme além do que ele está dizendo para o que nós sentimos, como público. Com todos esses elementos sendo colocados, também se cria uma sensação secundária de que todo o momento de construção do suspense funciona melhor do que a sua solução, uma vez que quase todos os elementos já estão à disposição do espectador.

Hugh Grant certamente é o elemento de grande destaque da obra, e após um certo período sem personagens realmente marcantes, ele retorna a um lugar de destaque com uma atuação cínica e muito bem planejada. É aterrorizante por vezes se sentir de acordo com o personagem, e por vezes percebendo sua completa insanidade, que mesmo nos momentos mais loucos ainda é auto contida.

Um bom filme de uma produtora que está muito popular, Herege certamente encontrará o seu público dentro dos apreciadores de um bem pensado thriller.

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