Crítica | TIFF | Queer

Queer (Itália e EUA, 2024)

Título Original: Queer

Direção: Luca Guadagnino

Roteiro: Justin Kuritzkes baseado em livro de William S. Burroughs

Elenco principal: Daniel Craig, Lesley Manville, Drew Starkey, Jason Schwartzman, David Lowery, Henrique Zada, Colin Williams e Lisandro Alonso

Duração: 135 minutos

Luca Guadagnino está alinhado com os diretores que estão buscando trazer o desejo de volta às telas. E se em seu aclamado Rivais (2024) ele brinca com o desejo a partir do triângulo amoroso jovem e sensual, Queer poderia entrar como o lado triste dessa mesma moeda. Parte triângulo amoroso e parte reflexão sobre a difícil vida dos homossexuais no meio do século passado, a obra é um mergulho no livro de Burroughs para falar sobre a solidão.

Imagem

William Lee (Daniel Craig) é um expatriado estadunidense vivendo no México e preocupado com basicamente duas coisas: usar drogas e ter encontros casuais com homens bonitos. Mas quando ele conhece Eugene Allerton (Drew Starkey), se inicia uma obsessão pelo rapaz, complicada pelo fato de ele ter seus próprios dilemas quanto a sua sexualidade. E, além disso, Lee inicia um plano de uma viagem pela América do Sul em busca de uma planta mágica, a yagé (mais conhecida pelos brasileiros como Ayahuasca).

Se a obra se inicia com uma representação de um cotidiano bem estereotipado do estadunidense que não se dá ao trabalho nem de aprender a língua local para viver em outro país, aos poucos ela vai assumindo um caráter muito mais reflexivo do interior de seus personagens. Ele passa da chave realista para uma fantasiosa de maneira intrinsecamente ligada à história, em uma mudança que a maioria das críticas pareceu considerar muito súbita, mas que é construída tanto no enredo quanto imageticamente.

O enredo é construído de maneira cíclica, entre os momentos de paixão e brigas do casal e dos momentos nos quais o ciclo de uso de drogas está mais pesado ou Lee está em abstinência. Ainda que haja uma inspiração em um livro, esse é o ponto no qual a adaptação audiovisual acaba falhando, pois a sua tradução em telas leva a uma sensação cansativa que ultrapassa o que é gerado pelas cenas e torna o filme inteiro um tanto cansativo. Quando ele começa a chegar ao fim, há mais de uma cena na qual se tem a sensação de que a obra poderia ter parado por ali.

Já o casting realizado foi muito fortuito. Daniel Craig, que interpretou um dos personagens mais heteronormativos do cinema, James Bond, como um personagem assumidamente gay em um momento em que isso era considerado altamente subversivo, é conseguir utilizar uma carreira para trazer um elemento narrativo extra tela. Infelizmente, ainda em 2024, temos pessoas que ficam chocadas com cenas de sexo mais sensuais entre pessoas do mesmo gênero, e o fenômeno percebido em Veneza de pessoas deixando a sala também foi percebido em Toronto. Sigo sem compreender uma pessoa que escolhe entrar no filme, compra um ingresso, vê o seu título nada dúbio e mesmo assim se choca.

Um dos momentos mais belos do filme é a interpretação visual que Guadagnino cria do uso de Ayahuasca para retratar a conexão e a falta de conexão entre o casal. Ainda mais interessante foi que um mesmo da plateia fez uma pergunta ao diretor chamado o momento de um body horror, ao que o diretor respondeu dizendo que considera aquele um momento romântico.

Como um projeto pessoal do diretor, há diversas ideias que parecem ter fermentado em sua cabeça por muitos anos e que não conseguiram encontrar o mesmo entusiasmo e paixão do público. Ainda assim, é um filme LGBTQIAPN+ imperdível e que deve ser apreciado nas telonas.

Deixe um comentário

O seu endereço de e-mail não será publicado. Campos obrigatórios são marcados com *

Rolar para cima