Crítica | TIFF | The End

The End (Dinamarca, Irlanda, Alemanha, Itália, Reino Unido, EUA e Suécia, 2024) Ainda sem título em português

Título Original: The End

Direção: Joshua Oppenheimer

Roteiro: Rasmus Heisterberg e Joshua Oppenheimer

Elenco principal: Tilda Swinton, Michael Shannon, George MacKay, Bronagh Gallagher, Moses Ingram, Lennie James, Tim McInnerny e Danielle Ryan

Duração: 148 minutos

É difícil imaginar o que seria um musical que acontece no fim do mundo, mas se existe alguém qualificado para fazê-lo é Joshua Oppenheimer, que ganhou notoriedade mundial com seus documentários O Ato de Matar (2012) e O Peso do Silêncio (2014) sobre os assassinatos em massa na Indonésia. Com a qualidade perturbadora de criar imagens poéticas a partir de cenários horrendos, aqui ele consegue criar músicas divertidas a partir do fim do mundo.

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O musical utiliza um formato bastante clássico para contar a história de Mãe (Tilda Swinton), Pai (Michael Shannon) e Filho (George MacKay) enquanto eles sobrevivem ao fim do mundo em um bunker afastado e auto suficiente, com apenas alguns funcionários como companhia. Mas quando a Garota (Moses Ingram) chega ao local, todas as relações familiares passam por transformações a partir da perspectiva de que ainda existe alguma vida exterior à sua morada.

De certa forma, a temática soa até como bíblica a um primeiro momento: a pessoa que vem de fora como a serpente, trazendo o conhecimento proibido que pode expulsar aqueles moradores do paraíso que eles acreditam viver. Para o Filho, principalmente, é realmente essa a sensação de uma inocência perdida. Já para os outros ocupantes do local, o início de um jogo de reflexões sobre suas culpas anteriores ao fim do mundo e de que abdicaram para poder viver ali.

A parte musical do filme é realizada de forma bastante clássica e correta, com músicas melódicas e que lidam quase que com os sentimentos e falas apenas colocados em um bom arranjo. A dança, também absolutamente artificial, entra como elemento que mostra o controle e conhecimento do gênero por parte do diretor e atores, com direito a jazz hands e piruetas do casal. Essa artificialidade é um elemento essencial para fazer com que se aprofunde na narrativa surreal, que nem busca dar as explicações que o público talvez deseje. É um maneirismo necessário para se entender a chave de funcionamento da obra.

E ele funciona até certo ponto, quando começamos a ver todas as peças do castelo de cartas montado até aquele momento começando a cair. Entre a fotografia claustrofóbica que talvez relembre demais os espectadores da ainda recente pandemia de COVID e os mesmos comportamentos compulsivos dos personagens, a falta de desenvolvimento de arcos mais complexos é o que leva a uma sensação de frustração ao fim do extensivo filme. Obviamente, as atuações são tão boas quanto se pode imaginar, o espaço criado para o bunker é intrincado e complexo. Mas os personagens acabam sendo excessivamente simples, com ações demasiadamente metódicas e sem criar uma maior reflexão sobre esse universo apocalíptico no qual eles vivem.

Assim, talvez seja uma obra que mereça uma segunda assistida para a assimilação de toda a sua capacidade narrativa, mas que em um primeiro momento cria um universo muito mais interessante do que a história que tenta contar em sua duração.

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