Crítica | Todo Mundo Ama Jeanne

Todo Mundo Ama Jeanne (França e Portugal, 2022)

Título Original: Tout le monde aime Jeanne
Direção: Céline Devaux
Roteiro: Céline Devaux
Elenco principal: Blanche Gardin, Laurent Lafitte, Maxence Tual, Nuno Lopes, Marthe Keller, Samira Sedira, Lisa Mirey e Andrew Sanko Logan
Duração: 97 minutos
Disponível em: Mubi

Todo mundo ama Jeanne se equilibra na corda bamba entre comédia e drama, com uma proposta promissora, mas que se revela uma comédia romântica convencional.

Jeanne (Blanche Gardin) é a queridinha da mídia francesa por anunciar um projeto ambicioso que promete remover lixo do oceano. No entanto, após o fracasso televisionado (e viral) do equipamento, ela vê seu sonho, autoestima e dinheiro indo embora. Falida, ela agora precisa ir a Lisboa para tentar vender o apartamento que sua mãe deixou de herança para ela e seu irmão, Simon (Maxence Tual).

A viagem a Portugal força Jeanne a se desapegar de seu antigo estilo de vida e confrontar traumas e medos adormecidos. Ainda no aeroporto, ela reencontra Jean (Laurent Lafitte), um ex-colega de escola de quem ela não se lembra. Ao contrário dela, que é sisuda e atormentada por seus pensamentos intrusivos, Jean é alegre, aventureiro e um tanto delinquente. Aqui, o personagem de Lafitte assume o papel de oposto complementar à Jeanne, tanto no nome quanto no jeito de lidar com as situações difíceis da vida. 

Para seu primeiro longa-metragem, que estreou em Cannes em 2022, a diretora e ilustradora Céline Devaux trouxe um recurso característico de seus curtas-metragens, que é ilustrar e dar voz à ansiedade de Jeanne. Este recurso revela o que se passa na mente caótica da personagem enquanto ela atravessa um período de luto, culpa pelo suicídio da mãe e ansiedade climática. Afinal, além de revisar o passado, antigos casos e ver o fantasma da sua mãe no apartamento, Jeanne é também constantemente angustiada pelas consequências das mudanças do clima e seus impactos nas gerações futuras.

O contraste é o elemento principal a trazer a comicidade a essa comédia-dramática-romântica: as ilustrações mostram a discordância entre o que se passa por dentro e por fora da personagem; e a relação um tanto hostil e divertida entre Jean e Jeanne rende situações embaraçosas, dentro do que é considerado humor para os franceses.

No entanto, o drama acaba pesando mais do que fazendo rir, pois temas de saúde mental e traumas sérios são gatilhos recorrentes. O romance fica com Jean, que com seu jeito leve mas insistente, tem a missão de mostrar para Jeanne que ela ainda pode recuperar a autoestima, lembrando-a do quanto ela foi e ainda é amada.

Em termos de narrativa, a sensação é de que isso já foi visto antes. As intervenções com as ilustrações são um meio interessante para esclarecer o estado mental da personagem, mas por vezes atrapalham o ritmo do longa.

Talvez a intenção com isso seja justamente ilustrar como o monólogo interior pode paralisar a vida das pessoas? Pode ser. Afinal, o único momento em que as vozes cessam é quando Jeanne se diverte na companhia de seu irmão e de Jean. De qualquer forma, elas desviam o foco da trama, o que se torna um tanto enfadonho.

Quanto ao subtexto, o filme abre diversas discussões relevantes mas não se preocupa em aprofundá-las, deixando uma sensação de superficialidade na abordagem dramática. Acaba por ser um filme arrastado, que demora a chegar ao seu ponto crucial — que não é, em si, um grande acontecimento, mas o resultado de um processo interno de ganho de consciência da personagem. 

No geral, é um longa que fala sobre aceitação da dor por meio do humor e autoconhecimento — mas é preciso um pouco de esforço para enxergar isso em meio a tantas pontas soltas. Mesmo assim, vale a pena assistir como uma comédia dramática romântica semi-leve com boa atuação de Blanche Gardin e Laurent Lafitte.

Deixe um comentário

O seu endereço de e-mail não será publicado. Campos obrigatórios são marcados com *

Rolar para cima