O Truque de Mestre: 3º Ato (EUA, 2025)Título Original: Now You See Me: Now You Don’t
Direção: Ruben Fleischer
Roteiro: Seth Grahame-Smith, Michael Lesslie e Rhett Reese
Elenco principal: Jesse Eisenberg, Woody Harrelson, Dave Franco, Isla Fisher, Mark Ruffalo, Morgan Freeman, Justice Smith, Rosamund Pike, Ariana Greenblatt e Dominic Sessa
Duração: 112 minutos (1h 52 min)
Distribuição: Paris Filmes
Não é de novidade que o cinema grandiloquente de hoje, especialmente o oriundo da máquina hollywoodiana, é dotado de uma autoconsciência que atinge o nível de auto-indulgência na maior parte das vezes. Novos exemplares de franquias como Pânico estão aí pra não me deixar de mentir. Truque de Mestre não é uma franquia de consciência metalinguística, por exemplo, mas flerta com todas as possibilidades de auto-importância que só o dinheiro de Hollywood pode comprar para suas franquias milionárias.

O terceiro capítulo da franquia, agora com comando de Rubens Fleischer (cada filme teve um realizador diferente, e isso vai ser comentado mais adiante), talvez seja o mais radical dos três filmes ao não somente maximizar os truques de roteiro e de seus personagens em cena, os populares Quatro Cavaleiros, mas de reverenciar e referenciar todo e qualquer mínimo acontecimento ou lembrança que possa soar como uma piscadela delirante para delirar os fãs da franquia – li uma crítica se perguntando se esses fãs realmente existem,e esta é uma pergunta que também me passou pela cabeça, confesso.
Não há o que tirar nem pôr de Truque de Mestre 3 em relação aos anteriores quando se fala de história: os Quatro Cavaleiros retornam (será que são só quatro mesmo?) para se envolver numa missão de roubo que parece impossível, enquanto lidam com uma nova geração de mágicos juvenis que se utilizam da imagem dos mágicos veteranos para fazer “justiça social” dos mais pobres contra os mais ricos – sim, o roteiro posiciona o retorno dos personagens conhecidos como se o primeiro Truque de Mestre não tivesse somente 12 anos de lançamento, mas o triplo disso.
Sei que até agora essa escrita dá a entender algo bastante negativo sobre Truque de Mestre 3, mas sendo direto? Que filme divertido, viu. Ao contrário dos dois exemplares anteriores, que vestiam pra si essa capa de thriller cerebral que se achava mais inteligente do que é, este terceiro filme finalmente permite que a franquia se leve menos a sério e abrace com mais vigor o que há de mais fantasioso dentro de todas as possibilidades que um alto orçamento permite. Provas disso? Prestem atenção em toda a sequência na mansão, talvez a melhor do filme.
Claro que, no fim das contas, isto serve muito mais como licença para que Truque de Mestre 3 justifique ou tampe suas enormes crateras de roteiro, as quais não vale nada mencionar aqui. Elas são óbvias e você irá perceber. Se o truque da nostalgia em si não funciona exatamente para o filme (é hilário como cada retorno dos personagens conhecidos precisa ser barulhento), a dinâmica entre o gigantesco elenco que aparentemente tem muitos boletos a vencer é funcional de uma forma bastante inesperada: Jesse Eisenberg, Woody Harrelson, Isla Fisher, Dave Franco, Morgan Freeman, e por aí vai… a boa interação entre atores tão diferentes sempre garante um sorrisinho no rosto durante as quase duas horas de projeção, já que cada intérprete demonstra estar bastante confortável nos arquétipos que o filme lhes empresta. Arian Greenblatt, Domic Sessa e Justice Smith, que formam o trio novato de mágicos/vigaristas/justiceiros talvez seja fraco demais para que uma comparação se faça justa, mas ao menos um deles tem uma surpresa dentro do roteiro que me deixou um tanto desnorteado. E Rosamund Pike de vilã? Bem… creio que os tempos de Gone Girl, um dia, ainda voltam.
Truque de Mestre 3 não se priva de admitir que é um filho natural da máquina de dinheiro hollywoodiana, e ao menos neste caso, esta é uma autoconsciência que cai bem ao entretenimento quando ele, ao menos, sabe lidar com a maximização de seus próprios… truques. A proposta é cristalina, e o filme a leva até às últimas consequências com algumas boas cenas de ação e cenas corporais muito bem coreografadas (de verdade, prestem atenção na sequência na mansão). Aqui, o que importa é o próximo truque, a próxima mágica, e como ela irá servir para manter seu cérebro ocupado por quase duas horas, por mais que qualquer lembrança sobre o filme se evapore num passe de mágica assim que as luzes se acendem. É como um parque de diversões, realmente. O que importa é o brinquedo seguinte, e nesse caso, nosso próximo entretenimento ligeiro está garantido pois Truque de Mestre 4 já está confirmado. Que venham as próximas aventuras dos Cavaleiros.




