As Muitas Mortes de Antônio Parreiras (Brasil, 2025)
Título Original: As Muitas Mortes de Antônio Parreiras
Direção: Lucas Parente
Roteiro: Lucas Parente
Elenco principal: Pepe Bertarelli, Ana Abbott, Alex Nanin e Leo Pyrata
Duração: 65 minutos
Entrando nas mostras mais relacionadas ao cinema experimental quanto à forma, As Muitas Mortes de Antônio Parreiras é definitivamente intrigante. Tratando ao mesmo tempo de uma biografia desconstruída de um pintor que eu desconhecia, e ao mesmo tempo trazendo um pouco da história do Brasil e sua historiografia, a obra acaba abrangendo muito mais do que se parece em um olhar mais superficial.

A beleza do verde exuberante que reflete um pouco do trabalho do pintor é um fator que permanece na mente após o término da obra, assim como a estranheza do urubu empalhado utilizado como recurso narrativo e artístico. Além disso, as vozes dos atores são trocadas por dublagens deles mesmos. E, quando o filme acaba, resta ao espectador criar o sentido a partir dessa linguagem experimental colocada à sua frente, com diversas possibilidades de exploração.
Pensando no comentário feito em relação às artes plásticas, é sagaz a brincadeira que se faz à impossibilidade de retratar exatamente um acontecimento, ainda que o pintor fosse um paisagista. O diretor, através do seu fazer artístico, leva ao pensamento sobre o impacto da produção da obra em seu conteúdo, criando um diálogo sobre os vieses impressos tanto ao fazer um filme quanto ao criar uma pintura. Assim, ele consegue tratar da biografia de Parreiras com um olhar crítico, pensando nos recursos que ele tinha e no contexto social em que estava inserido ao fazer suas pinturas.
Ao mesmo tempo, ao abordar as diversas mortes do pintor, ele consegue analisar a política e história do Brasil, falando um pouco sobre seus momentos de ruptura e de suas continuidades históricas. Tudo isso acontece de maneira mais sensorial do que lógica, como ao colocar o personagem anacronicamente no museu dedicado a ele, mas em um tempo contemporâneo. Ainda existe algo deste Brasil presente na nossa sociedade, assim como também existe uma mudança clara e a modernização.
A obra consegue ser muito significativa, ainda que a sua linguagem possa afastar no início os espectadores mais tradicionais. Felizmente, ela é perfeita para as mensagens que são passadas, assim como para o diálogo com o retratado. E, para a alegria dos espectadores, a equipe mostra que é possível criar uma biografia de maneira não-usual.