top of page
Foto do escritorCarol Ballan

A Boa Filha (Karin Slaughter, 2018)

Muitas vezes ao abrir um livro de suspense ou romance psicológico, o nosso principal objetivo é, pela duração daquela narrativa, alienar nosso cérebro da realidade. No entanto, ao me deparar com a obra A Boa Filha, de Karin Slaughter, a narrativa doméstica que envolve crimes, uma cidade e uma família entregou muito mais do que a alienação inicialmente almejada.


O romance se desenvolve na cidade de Pikeville, interior do estado da Geórgia nos Estados Unidos, a partir do crime brutal que mata a mãe das protagonistas, Gamma. Com uma linguagem extremamente dura e realista, que descreve detalhadamente cenas, pessoas e atrocidades, já ocorre um choque inicial ao perceber o nível de violência que será descrito. Seguimos então a vida de suas duas filhas Charlotte e Samantha já adultas, quando se vêem novamente obrigadas a conviver porque seu pai, advogado criminalista, se vê defendendo uma garota que realizou um tiroteio em uma escola - sim, este é um caso no qual o excesso de explicação sobre a trama tiraria alguns choques iniciais da leitura.


Além de mostrar esse elemento brutal dos crimes a partir da linguagem, o que já é uma grande surpresa para um gênero que muitas vezes prefere apenas pincelar sobre violências cometidas, ele também consegue direcionar o leitor para reflexões interessantes sobre o amadurecimento e as peculiaridades que tornam cada ser humano único. Exatamente por conseguir contrastar momentos de muita tensão com outros de doçura entre a família, é possível empatizar com todos os personagens. A tática utilizada de alteração do ponto de vista narrativo também permite acessar espaços que variam da autopercepção à percepção do outro sobre si, tornando a obra ainda mais viciante.


E, para os bons fãs de plot-twists, toda a estrutura de mistério e tentativa de solução de um crime que envolve personagens com as vidas tão intimamente conectadas e típicas de cidades pequenas permite a satisfação do desejo por um encerramento em um ato final que é um pouco corrido na questão do crime principal que guia a obra, mas satisfatório em relação à relação familiar exposta. Inclusive, é através dessa relação familiar e principalmente entre irmãs que o livro encontra o seu eixo mais emocionante em relação à não necessidade de superar todos os seus traumas sozinha.


É necessário fazer algumas observações importantes: o livro trata de assuntos bastante delicados como abuso sexual, violência contra crianças e racismo, sendo muitas vezes extremamente descritivo. Apesar de isso fazer sentido dentro de uma narrativa que envolve personagens um tanto lógicas, pode ser excessivo para leitores mais sensíveis, então recomendo refletir se esse é o livro ideal para você.

Comments


bottom of page