Dreams (Sex, Love) (Noruega, 2024)
Título Original: Drømmer
Direção: Dag Johan Haugerud
Roteiro: Dag Johan Haugerud
Elenco principal: Ella Øverbye, Selome Emnetu, Ane Dahl Torp, Anne Marit Jacobsen e Andrine Sæther.
Duração: 110 minutos
Parte de uma trilogia cujos outros filmes ainda não pude ver, Dreams (Sex, Love) é um filme que funciona sozinho, apesar dessa rima temática com as outras obras. Aqui, temos um filme de amadurecimento baseado em uma garota, Johanne (Ella Øverbye), que se apaixona pela sua professora de francês, Johanna (Selome Emnetu). Ela decide eternizar o seu sentimento latente em palavras, e após um tempo acaba compartilhando os acontecimentos com sua avó, Karin (Anne Marit Jacobsen), que além de enxergar um potencial literário, também se preocupa com os acontecimentos narrados.

A maior qualidade da obra é a sua capacidade de gerenciar diversas discussões e sentimentos ao mesmo tempo de maneira equilibrada, sem parecer uma colcha de retalhos. Se por um lado conseguimos entender a força da paixão juvenil e um despertar queer da personagem principal, também conseguimos pensar nas reações de sua avó, uma mulher experiente e cujas aventuras já não estão no seu ápice, sentindo certa inveja das emoções intensas da garota. Compreendemos a situação da professora, que acolhe uma aluna que parecia em necessidade, mas ao mesmo tempo também conseguimos ver a problemática que uma ficção tem de remodelar a realidade e gerar reações assustadas com o potencial problemático de algumas ações.
Mais do que tudo isso, podemos sentir através da técnica cinematográfica o amor que Johanne sentiu. Da iluminação que sempre sugere um ponto quente, confortável e ensolarado em Johanna perante à frieza escandinava, dos ambientes internos sempre agradáveis em comparação aos externos, da escolha de gravar diversas cenas importantes durante as caminhadas, principalmente de Karin.
Nesse sentido, ele também traz a discussão sobre o poder da arte em reviver emoções e sensações que parecem impossíveis, como a intensidade de um amor adolescente. A única cena que quebra o realismo do filme, de Karin nas escadas, é uma representação visual da viagem que a ficção pode nos promover. É feliz que se faça esse respiro em meio à seriedade do assunto da paixão adolescente.
O filme nunca busca a solução fácil para uma questão, explorando até as últimas consequências de cada linha narrativa proposta. Se, por exemplo, você escreve uma história para você e ela acaba tendo um público, ela deixa de ser apenas sua para criar ramificações na mente de cada um dos seus leitores? Se essa história envolve outras pessoas, é parte da sua responsabilidade falar com os envolvidos para poder publicá-la? Eles têm o direito de opinar sobre a narrativa, uma vez que estão envolvidos nela? Todos esses questionamentos são amplamente discutidos, dando a sensação de que a obra é bastante abrangente no que se propõe a fazer.
E nisso, o filme faz com que enxerguemos uma poesia na vida real que é muito importante e que acaba sendo deixada de lado por conta da lógica de enxergar a nossa vida através apenas da ótica da produtividade. Ele se torna um exemplo da importância da arte para quebrar com esses padrões impostos.
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