Mother’s Baby (Áustria, Alemanha e Suíça, 2025)
Título Original: Mother’s Baby
Direção: Johanna Moder
Roteiro: Arne Kohlweyer e Johanna Moder
Elenco principal: Marie Leuenberger, Hans Löw, Claes Bang, Julia Franz Richter, Laura Meakin, Nina Fog e Caroline Frank
Duração: 108 minutos
Como dito em críticas anteriores, a maternidade realmente é um assunto que não sai de moda nas telonas. Mother’s Baby é mais uma iteração deste mesmo tema, utilizando o suspense como forma de lidar com a situação de uma mulher que não consegue se conectar com seu filho.

Julia (Marie Leuenberger) é esta mulher que deseja muito ter um filho e que busca uma clínica de fertilidade com seu marido, Georg (Hans Löw) com tal intuito. Eles logo são recebidos pelo Dr. Vilfort (Claes Bang), que assegura que aquela é uma das melhores clínicas da Europa e que logo eles terão seu bebê. Dito e feito, logo a vemos grávida, acompanhamos o parto complicado, sua tristeza ao ver o filho sendo levado para a UTI, e sua alegria quando ele volta para casa. No entanto, algo se perdeu nesse processo, e Julia não consegue criar uma conexão com essa criança.
A obra trilha muito bem o caminho da tensão enquanto acompanhamos o drama dessa mãe tentando compreender o que existe de errado com ela ou com a criança. Temos uma grande metáfora sobre a depressão pós parto com essa desconexão, o clima crescente de paranoia e a relação com as pessoas ao seu redor, que acreditam que Julia realmente está enlouquecendo. Por se tratar de uma obra de ficção, não temos certeza se o que vemos é uma projeção da mulher ou se seria algo real, com a estranheza do garoto, os olhares suspeitos das pessoas da clínica e o intrometimento do médico parecendo pouco usuais, mas possíveis dentro do contexto dessa mulher que acredita estar sendo perseguida.
Muita dessa estranheza é construída dentro das características audiovisuais. Desde as primeiras cenas, vemos muito contraste entre Julia e Georg e a clínica de fertilidade, com eles sempre contrastando com as cores do local. Ao mesmo tempo, a construção da casa onde eles passam a maior parte da obra é belíssima, com todos os detalhes planejados para a chegada do bebê e, quando ele chega, não se conseguindo realmente se adaptar àquele local. A trilha sonora, muito importante na situação por conta do trabalho de Julia como maestro, também ajuda a criar o clima entre o mistério e a melancolia. Por fim, há um trabalho de som primoroso, principalmente na cena do parto. O modo que o batimento cardíaco do bebê é mostrado parece sempre um pouco fora de sincronia, e a partir daí já embarcamos no clima proposto.
Ainda que manter o suspense seja uma bela maneira de manter a tensão e a metáfora do filme, existe um momento no qual se pode escolher entre manter o clima de mistério ou se jogar na ideia de terror proposta, e infelizmente toda a tensão da obra acaba dando espaço para um novo conceito que não tem tempo suficiente para se desenvolver em tela. Longe de invalidar o resto da experiência, esse seu final apenas diminui um pouco a potência mais simbólica da obra.
Sendo mais um de uma série de filmes que abordam a maternidade de forma ousada e que brinca com o sobrenatural para falar sobre assuntos sérios, é mais uma obra importante dentro desse movimento não organizado de diretoras. E, para quem esteja passando por um processo de fertilização in vitro, é melhor passar longe da obra para não se criar novas paranoias em um processo já tão complexo.