Crítica | 75ª Berlinale | The Message

The Message (Argentina, Espanha e Uruguai, 2025)

Título Original: El Mensaje
Direção: Iván Fund
Roteiro: Martín Felipe Castagnet e Iván Fund
Elenco principal: Mara Bestelli, Anika Bootz e Marcelo Subiotto
Duração: 91 minutos

Perder um animal de estimação ou cuidar de um que esteja doente é um processo muito doloroso. Nesse contexto, somos apresentados no filme à Anika (Anika Bootz), uma médium que consegue se comunicar com a alma dos animais, estejam eles neste plano ou em outro, e trazer mensagens de conforto ou de explicações sobre o que está errado. Conhecemos também seus guardiões legais, Myriam (Mara Bastelli) e Roger (Marcelo Subiotto) na medida em que eles viajam de van pelo interior argentino para entregar essas mensagens de pets para seus tutores.

Dentro desse contexto, é preciso dizer que o filme não apresenta soluções ou resoluções, assim como não tem um roteiro com um arco dramático. Ele apenas apresenta seus fatos, em uma bela fotografia preto e branco, como se fosse uma espécie de documentário sobre a vida dessas pessoas. Não há grandes truques, cenas de mediunidade assombrosas ou mesmo uma grande variação da melancolia que se apresenta já de início. O maior drama será interno, na medida em que nos perguntamos sobre o quanto esses adultos estão explorando essa criança que sabemos não ser filha deles, e de quanto essa vida nômade afetará os relacionamentos dela por toda a vida.

Há muitas cenas bem construídas, um humor um tanto peculiar e, principalmente, uma excelente atuação de Anika Bootz. A garota tem um efeito magnético aos olhos do espectador, por ter um olhar difícil de desvendar. Nunca temos certeza sobre o que ela está sentindo, e como ela não tem ninguém com quem possa conversar, sentimos o acúmulo de assuntos ocorrendo dentro de sua cabeça. Entretanto, ao mesmo tempo vemos que Myriam e Roger a tratam com carinho, e na medida do possível fazem o que julgam o melhor para a garota.

Temos uma obra que, por sua simplicidade, é capaz de gerar muita ambiguidade. Ao mesmo tempo em que vemos a garota trazendo essa última alegria para tutores e se divertindo com seus bichos, pensamos muito na sua solidão e na grande crise econômica argentina. Mas a obra também nunca dá espaço para assuntos se desenvolverem, fazendo com que esses personagens ganhem complexidade e uma vida fora das telas. Por mais que ele deixe bastante espaço para o espectador refletir sobre a colcha de momentos que forma uma vida, ele não traz elementos suficientes para que aquela vida retratada em tela, nos ocupe pelos 90 minutos de filme.

Assim, a obra perde um pouco esse caráter de nos emergir na ficção, ainda que nos faça refletir sobre nossa própria vida. Sua falta de acontecimentos é um tanto interessante quando pensamos em um método para fazer um filme, mas quando esse método é colocado em execução, acabamos com um filme um tanto enfadonho e de ritmo lento.

Deixe um comentário

O seu endereço de e-mail não será publicado. Campos obrigatórios são marcados com *

Rolar para cima