A Batalha da Rua Maria Antônia (Brasil, 2024)
Título Original: A Batalha da Rua Maria Antônia
Direção: Vera Egito
Roteiro: Vera Egito
Elenco principal: Gabriela Carneiro da Cunha, Isamara Castilho, Juliana Gerais, Pâmela Germano, Caio Horowicz e Philipp Lavra
Duração: 98 minutos
Distribuição brasileira: Imagem Filmes
É muito feliz que o Brasil tenha aproveitado o seu momento recente pavoroso de volta da extrema direita para o poder para revisitar cinematograficamente alguns de seus momentos mais tristes vividos em meio à ditadura militar. Este é o caso deste longa-metragem, que revisita a Batalha da Rua Maria Antônia ocorrida em 02 de outubro de 1968 e que pode ser desconhecida para muitas pessoas que não eram nascidas naquele momento.

O momento foi bastante marcante por se tratar de um confronto direto entre estudantes da FFLCH-USP e o Mackenzie, que naquele momento estavam frente a frente fisicamente, ocupando a mesma rua. Assim, eles eram quase um reflexo da sociedade brasileira, com parte engajada na luta anti-ditadura e a outra parte se colocando como em luta anti-comunista para repreender a organização contra o sistema. Se a USP estava ligada à UNE (União Nacional dos Estudantes), parte do Mackenzie estava ligada ao CCC (Comando de Caça aos Comunistas), e o conflito era iminente. E ele estourou quando alunos do Mackenzie lançaram o primeiro ovo em uma estudante da USP, com sua escalada resultando em morte e uma grande passeata.
O filme aproveita este momento real assustador para criar uma ficcionalização que consegue dramatizar o evento. Vemos a história se desenrolar principalmente através dos olhos de Lilian, estudante de filosofia que estava tentando se manter alheia aos acontecimentos, mas acaba sendo sugada para o centro dos acontecimentos: o Centro Acadêmico (CA) da FFLCH, que estava organizando a votação para a UNE. Mesmo que ela não seja a protagonista específica de nenhum dos acontecimentos, ela nos traz uma visão interessante por estar à margem dos acontecimentos, observando tudo e muitas vezes precisando ser informada de fatos, criando um ambiente propício para passar informações de maneira não tão expositiva para os espectadores.
Se a narrativa já é interessante por seu contexto histórico e escolha de personagens, a sua forma cinematográfica também não deixa a desejar. Primeiramente, o filme é plasticamente muito bonito, com a fotografia em preto e branco tendo o efeito duplo de dar a impressão de falar sobre o passado e de esconder o presente – dado que o local segue existindo dentro de São Paulo. Além disso, ele é dividido em 21 planos sequência, que dão ritmo ao filme e conseguem criar pontos de corte que valorizam a narrativa. Há muitos momentos em que ficamos curiosos com o que acontece fora das telas, mas todo o essencial está presente para que o público se envolva com o arco narrativo e torça pelos personagens. As cenas de ação também são bem organizadas e funcionam com o preto e branco escolhido pela direção e fotografia, deixando claros os acontecimentos e de qual parte surge cada parte do caos estabelecido.
Assim, roteiro, direção e setores técnicos todos se unem para criar uma obra coesa e que pode trazer luz aos acontecimentos de mais de 50 anos atrás e introduzir o assunto para as gerações mais jovens – e até para os cidadãos mais velhos que preferiram esquecer parte do passado.