A Grande Viagem da Sua Vida (EUA, 2025)
Título Original: A Big Bold Beautiful Journey
Direção: Kogonada
Roteiro: Seth Reiss
Elenco principal: Margot Robbie, Colin Farrell, Phoebe Waller-Bridge, Jennifer Grant, Kevin Kline e Lily Rabe
Duração: 110 minutos (1h50min)
Distribuição: Sony Pictures
Romance estrelado por Margot Robbie e Colin Farrell bate à porta com clichês do gênero e realismo mágico.
Sarah (Margot Robbie) e David (Colin Farrell) se esbarram no casamento de uma conhecida em comum. Trocam olhares, mas não há amor à primeira vista. Os dois solteiros se estranham em algumas palavras trocadas e, logo depois, se perguntam se seriam capazes de passar o resto da vida juntos. De repente, estão viajando lado a lado. Não em uma viagem qualquer, como um fim de semana em um chalé ou um feriado na praia, mas pelos momentos mais memoráveis da vida um do outro.
A inusitada premissa de A Grande Viagem da Sua Vida é um liquid sunshine — expressão citada logo no início que descreve o fenômeno climático de sol e chuva em que os protagonistas se encontram. Tudo se baseia em contrapontos. Sarah e David moram na mesma cidade, mas em bairros diferentes. Alugam o mesmo carro, mas o estacionam em direções opostas. Comem a mesma refeição, mas a chamam por nomes distintos. São o sol e a chuva dividindo o espaço-tempo desta história.
Contudo, as diferenças vão além dos detalhes. Eles tiveram trajetórias de vida completamente distintas e, por acaso do destino, se cruzaram. Aqui, entenda por destino uma agência de aluguel de carros comandada por Phoebe Waller-Bridge e Kevin Kline, além de um GPS que guia os passageiros por frustrações do passado, oferecendo uma possibilidade de amor no futuro.
Nesse sentido, é interessante como a direção de Kogonada explora o realismo mágico na telona. Conhecido por ensaios visuais que homenageiam a estética de cineastas como Alfred Hitchcock, Stanley Kubrick e Wes Anderson, o diretor busca desenvolver sua própria marca.
Por vezes, isso funciona bem, como na cena em que David revive o musical da infância em que se declarou para sua primeira paixão, em um número coreográfico encantador com Farrell. Ou no tom mais teatral em que ele e Sarah caem em um vácuo existencial e acabam reproduzindo uma obra de arte que marcou a adolescência dela. Esses trechos mais livres fogem da narrativa linear típica do gênero e acrescentam reflexões filosóficas que fazem a poltrona do cinema flutuar por alguns minutos.
Revisitar flashbacks de traumas pessoais, namoros fracassados, refúgios da psique e nostalgias da infância nos leva a refletir sobre os desafios de iniciar um novo relacionamento. Sarah ainda sofre com a perda da mãe e carrega problemas de fidelidade pela ausência paterna, enquanto David lida com a carência e a rejeição ao tentar se reconciliar com sua versão mais jovem. Estar consciente das imperfeições do outro, revelar vulnerabilidades e ainda acreditar em um amor romântico pautado pelo “felizes para sempre” é a porta do presente que ambos hesitam em atravessar.
Ao mesmo tempo que se aprofunda na forma e no tema do romance, A Grande Viagem da Sua Vida escorrega em reducionismos clichês. Margot Robbie e Colin Farrell, atores versáteis e queridinhos da crítica e do público, são o grande chamariz da produção. Eles se saem bem, mas estão em papéis simplórios se comparados à complexidade de trabalhos recentes que os elevaram. É uma performance “água com açúcar”: condizente com o que o filme pede, mas aquém de seu potencial.
Além disso, o figurino dos personagens é uma obviedade incômoda. Ela veste vermelho, ele veste azul. No fim, quando finalmente decidem ficar juntos em um desfecho morno e esquecível, trocam as cores com as do parceiro.
A tão romantizada grande viagem da vida os conduz diretamente um ao outro, a fim de compartilhar a eternidade juntos. Contudo, a proposta de experienciar o amor de maneira sobrenatural se esvazia em uma conclusão piegas que não dialoga com as configurações amorosas modernas. A Grande Viagem da Sua Vida acaba soando antiquado.
