Copan (Brasil e França, 2025)
Título Original: Copan
Direção: Carine Wallauer
Duração: 99 minutos
Não há dúvidas que o Copan é um dos edifícios mais emblemáticos de São Paulo. Projetado por Oscar Niemeyer, o prédio é sinônimo de pluralidade e um símbolo histórico da história da cidade. Logo, descobrir um documentário sobre ele já cria uma boa expectativa, afinal é difícil não querer conhecer mais sobre o prédio, a história de seus moradores – que consequentemente compõem a história do próprio Copan – e olhar, através da tela do cinema, para dentro daqueles corredores. Portanto, é bem decepcionante descobrir como o Copan de Carine Wallauer se revela um documentário que tenta falar sobre tanta coisa, menos sobre o que mais interessa: o próprio Copan.

Não há dúvidas de que o momento político que vivemos no Brasil é um dos mais turbulentos dos últimos anos. Desde 2016, passando pela eleição de Jair Bolsonaro em 2018 e, posteriormente, a eleição de Lula em 2022 após passar mais de um ano e meio preso – envolvendo todo um emaranhado político que não cabe elaborar aqui –, já são quase 10 anos que vêm se mostrando um período fértil para ideias cinematográficas que investigam, refletem e dissecam diversas questões. E ainda assim, é bem surpreendente notar como Wallauer transforma seu documentário sobre o Copan em mais um filme sobre a política brasileira, o inserindo na mesma prateleira de tantos outros filmes melhores e piores sobre o tema.
Muito de Copan dialoga com uma reflexão sobre democracia e parece que o mais longe que o filme chega de olhar para seu objeto de interesse é abordar sobre a eleição do síndico, que ocupa o cargo desde 1993 e segue em busca de seu décimo-sexto mandato(!), mesmo diante das diversas reclamações de muitos moradores. Sem entrar muito no processo eleitoral, Wallauer captura uma reunião virtual de moradores em meio a diversas reclamações sobre o processo e sobre o próprio síndico, o sr. Affonso, inclusive apontando como ele sempre demonstra querer deixar o cargo, embora nunca o faça. É um momento que acaba se tornando engraçado, e um alívio no meio de um marasmo generalizado, mas sem nunca se desenvolver em algo mais, deixando no ar o interesse de que há muito mais para descobrirmos sobre os moradores do Copan.
Entretanto, parece que sempre que estamos prestes a mergulhar na vida do edifício, o que vemos é apenas uma reação ao momento político. Há quem vague pelo Copan bradando o nome de Bolsonaro a plenos pulmões, ao passo que funcionários do local dialogam sobre como o PT é necessário para os trabalhadores e não abrem mão de seu voto no partido. Ainda assim, tudo isso é muito raso e vago, criando um voyeurismo político que nunca se reflete no que está dentro das paredes e nos vastos corredores do prédio, embora a câmera de Wallauer nos leve até ali de uma forma quase invasiva e fascinante. Contemplamos as paredes e sua iluminação amarela, assim como a escada espiral, tão marcante na identidade visual do local, em um plano longo e contemplativo. Mas o Copan retratado no documentário parece simplesmente… Vazio.
De certa maneira, Copan soa como a antítese de Edifício Master de Eduardo Coutinho. Na época, a equipe de Coutinho viveu no prédio em Copacabana por alguns meses e realizou um sensível retrato do lugar através das diversas entrevistas filmadas em alguns dos 276 apartamentos, distribuídos em seus 12 andares. Quando paramos para refletir que o prédio paulista possui 1160 apartamentos – distribuídos em 32 andares, caso alguém fique curioso sobre isso –, é praticamente impossível não imaginar as diversas histórias encontradas por ali. Quem são aquelas pessoas? De onde vieram? O que fazem? Nada disso fica claro ao passo que, novamente, somos inseridos de forma quase invasiva, com um câmera estática que captura alguns poucos minutos de algumas rotinas, simplesmente “enfileiradas” por uma montagem simples.
Se o uso de drones funciona para criar panorâmicas belas sobre a cidade de São Paulo, o momento em que vemos a câmera se afastar para permitir que o Copan se mescle à paisagem da cidade funciona quase como uma metáfora visual de toda a experiência. Chegamos e vamos embora do edifício sem nunca parecer que entramos de verdade ali. Pelo contrário, pois nos afastamos apenas com a visão de que, ao menos, é um edifício bem bonito, com suas paredes e estruturas de concreto. Mas saímos sem conhecer a parte mais importante: a alma daquele lugar e a vida dos que ali habitam.