Crítica | G20

Um Filme Minecraft (EUA, 2025)

Título Original: G20
Direção: Patricia Riggen
Roteiro: Caitlin Parrish, Erica Weiss e Logan Miller
Elenco principal: Viola Davis, Anthony Anderson, Ramón Rodríguez, Marsai Martin, Anthony Starr, Douglas Hodge e Elizabeth Marvel
Duração: 108 minutos
Distribuição brasileira: Prime Video

Viola Davis como presidente dos Estados Unidos em aposta do Prime Vídeo que flerta com o thriller político e acaba como uma ação genérica.

Ao longo de sua carreira, Viola Davis se tornou um símbolo de representatividade para mulheres negras na indústria cinematográfica. A atriz reverteu o lugar subalterno ao qual esse grupo minoritário muitas vezes era relegado nas telas, dando lugar ao empoderamento. Interpretar figuras de poder na ficção tornou-se uma das marcas do seu pioneirismo, como a General Nanisca em A Mulher-Rei, a diretora Amanda Waller em Esquadrão Suicida ou a advogada Annalise Keating em How to Get Away With Murder.

Em G20, novo filme de ação da Prime Video, Viola Davis é Danielle Sutton, a presidente dos Estados Unidos, que, durante uma conferência na África do Sul para discutir a fome e a desigualdade social com as nações mais ricas do planeta, tenta sobreviver a um ataque terrorista que interrompe a reunião. Dividida entre proteger seu marido e seus dois filhos ou o restante do mundo, ela enfrenta um patriota disposto a criar deep fakes para lucrar com a desestabilização da economia global.

A sinopse de G20 é instigante e o nome de Viola Davis chama atenção como protagonista e também como produtora do longa. Contudo, Davis pode até salvar o mundo, mas não consegue salvar o filme de si mesmo. O que começa como um thriller político com ganchos para a geopolítica atual logo se perde em uma narrativa de luta e sobrevivência que deságua em sequências de ação genéricas.

É interessante compreendermos a personagem como uma figura tridimensional. Danielle carrega o fardo de liderar uma das principais potências globais, mas também enfrenta crises familiares com a filha adolescente rebelde e aindasupera traumas de guerra. Conhecer suas fraquezas e inseguranças a torna mais forte aos olhos do espectador quando a vemos discursando ou negociando estratégias políticas. Essa complexidade é mérito da atuação de Viola Davis, que consegue humanizar personagens das mais imponentes às mais vulneráveis.

No entanto, ao invés de essa construção transbordar para as tensões internacionais e os posicionamentos dos EUA na utopia do G20, o longa se debruça nos confrontos físicos e cenas de perseguição que sucedem o ataque terrorista liderado pelo personagem de Antony Starr. A eloquência sociopolítica emergente é deixada de lado para dar vazão ao jogo de gato e rato que banaliza o roteiro em vez de projetá-lo.

Algumas das cenas mais frustrantes são as inúmeras tentativas da direção de Patricia Riggen de apostar no suspense para tirar o fôlego do espectador. Assistimos Danielle e alguns reféns quase serem pegos na cena do elevador; depois, o mesmo acontece com sua família na sacada; e, de novo, no terraço, em que os filhos se penduram no parapeito para passarem despercebidos. É uma linguagem simplória e pouco empolgante que coloca a vida dos personagens em risco diversas vezes até que deixamos de nos importar, pois já sabemos que escaparão como nas outras vezes.

G20 até se compromete a fazer algumas críticas sociais e políticas, mas o faz de maneira superficial, com diálogos expositivos e pouco subtexto. O tom crítico, assim, torna-se coadjuvante, quase figurante da narrativa, o que abre espaço para a ação assumir o protagonismo. A ação ser o destaque não é um problema por si só — essa abordagem poderia funcionar se fosse bem executada, o que não é o caso. As cenas de luta e conflito armado são confusas e previsíveis, feitas com movimentos de câmera tão ágeis que mais nos deixam tontos do que entretidos, e temos a sensação de já saber o que virá a seguir.

Por fim, esta pode não ser uma das grandes performances de Viola Davis, mas está longe de ser classificada como a pior. A atriz se inspirou na coragem e força da tripulante Ripley (Sigourney Weaver), do clássico Alien: O Oitavo Passageiro, e teve intenso preparo físico para o papel, aprendendo a manusear armas e táticas militares para ficção — até dispensando dublês. Ainda assim, tamanho esforço não muda o fato de que G20 é, infelizmente, um dos filmes mais fracos de sua carreira

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